Preparamos um post para esclarecer todos os pontos importantes da Estenose Mitral! Confira:
A Estenose Mitral (EM) caracteriza-se por uma limitação da abertura da valva mitral, gerando dificuldade ao fluxo sanguíneo entre o átrio esquerdo e ventrículo esquerdo e, consequentemente, alterações nas pressões entre estas duas câmaras.
A febre reumática é a principal causa da EM, sendo responsável por 99% das estenoses mitrais e as mulheres são mais afetadas que os homens em uma razão de 2:1. Outras causas incluem deformidades congênitas, calcificação do anel mitral, doenças infiltrativas, endocardite infecciosa, lúpus eritematoso sistêmico, artrite reumatoide, síndrome carcinóide e doença de Wipple.
Achados clínicos:
Dispneia, ortopneia, sibilos, tosse, dispneia paroxística noturna e edema agudo de pulmão.
Hemoptise, astenia, fadiga, disfagia (devido ao AE dilatado comprimir o esôfago).
Rouquidão (dilatação do AE pode levar à compressão do nervo laríngeo).
Aumento da predisposição para fibrilação atrial, formação de coágulos e tromboembolismo.
Dor torácica, às vezes indistinguível da angina pectoris, decorrente da compressão do tronco da coronária esquerda pelo tronco da artéria pulmonar dilatada.
Facies mitralis (pouco comum), caracterizada por nariz fino e manchas róseas purpúreas no rosto (devido ao baixo debito cardíaco e à vasoconstrição periférica).
Edema em membros inferiores, hepatomegalia e estase jugular (IVD).
Pulso arterial é na maioria das vezes normal, mas pode se apresentar com baixa amplitude nos pacientes com redução do volume sistólico.
Ictus Cordis é geralmente normal uma vez que o VE está preservado. Pode estar desviado para a esquerda, permanecendo no quarto espaço intercostal quando há disfunção de VD.
Frêmito diastólico em área mitral, melhor perceptível com o paciente em decúbito lateral esquerdo (DLE).
Ritmo cardíaco regular ou irregular na presença de FA.
B1 hiperfonética. Sopro diastólico em ruflar de baixa frequência no foco mitral, timbre grave, melhor audível no ápice, com a campânula e com o paciente em DLE;
A gravidade da estenose não se relaciona com a intensidade do sopro;
Com a elevação da pressão pulmonar o segundo componente da segunda bulha (P2) se acentua;
Outros sinais de hipertensão pulmonar incluem o encurtamento do desdobramento da B2, o sopro de insuficiência tricúspide e o sopro de Graham Steel da regurgitação pulmonar.
Exames Complementares:
Eletrocardiograma: Sobrecarga AE = Onda P bífida. Bifásica em V1 com 2a fase lenta (Índice de Morris). Em caso de hipertensão pulmonar pode ocorrer desvio de eixo para a direita no plano frontal. FA e sinais de sobrecarga de VD.
Radiografia de Tórax: Dilatação AE caracterizada pelo sinal do duplo contorno e retificação da borda cardíaca esquerda. Retificação ou abaulamento do tronco da artéria pulmonar e aumento do AD e VD indicam HAP. Sinais de congestão pulmonar: linhas horizontais B de Kerley e derrames pleurais.
Ecocardiograma: é o exame que pode confirmar a EM, avaliar sua gravidade, sugerir sua etiologia e prognóstico, além de mensurar a pressão arterial pulmonar e classificar a EM em leve, moderada e grave.
A gravidade da EM é graduada a partir dos valores de área valvar e do gradiente pressórico médio:
Graduação da Estenose Mitral:
O escore de Wilkins avalia quatro aspectos estruturais da valva mitral: Mobilidade dos folhetos, espessamento valvar, grau de calcificação e acometimento do aparato subvalvar. Esses itens são graduados de 1 a 4 cada resultando em um escore que pode variar de 4 a 16. Pacientes com escore de Wilkins iguais ou inferiores a 8 são candidatos a valvuloplastia percutânea na ausência de outras contraindicações.
Cateterismo Cardíaco: Nos casos em que os exames não invasivos são inconclusivos.
Tratamento Intervencionista:
Valvuloplastia mitral percutânea por cateter-balão (VMCB):
Apresenta uma taxa de sucesso de 80 a 95%, sendo as principais complicações o acidente vascular encefálico, tamponamento cardíaco a insuficiência mitral importante.
O principal critério de elegibilidade para a VMCB é a análise morfológica da valva mitral, sendo o escore ecocardiográfico de Wilkins o mais utilizado nesta avaliação através do ECO.
O paciente ideal apresenta os folhetos valvares flexíveis, não calcificados e pouco acometimento subvalvar com escore de Wilkins menor ou igual a 8. Escores maiores ou igual a 12 geralmente são valvas com deformidade acentuada e a VMCB tem papel limitado, não sendo indicada. Escores entre 9 e 12 merecem uma avaliação individualizada.
Contra-indicações da VMCB:
– Insuficiência mitral moderada a importante.
– Trombo atrial esquerdo que não desaparece com anticoagulação adequada.
– Escore de Wilkins > 8
– Indicação de tratamento cirúrgico em outra valva ou na aorta.
– DAC grave com indicação cirúrgica.
– Valva calcificada.
– Grave doença subvalvar.
– Impossibilidade de anticoagulação antes do procedimento em pacientes de elevado risco para tromboembolismo:
FA crônica ou paroxística, tromboembolismo prévio, átrio esquerdo > 50mm, contraste espontâneo graus III e IV.
Tratamento cirúrgico:
Classe I:
– Pacientes com EM moderada a importante, sintomáticos (CF III ou IV), com contraindicações à VMCB.
– Pacientes com EM moderada a importante, sintomáticos (CF III ou IV), em centros sem equipe treinada para realização de VMCB.
Quer saber mais sobre as condições cardíacas? No post anterior a professora fala sobre estenose aórtica. Confira!
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