Tudo bem pessoal? Hoje vamos comentar um assunto que foi muito discutido com o aumento de casos da febre amarela pelo Brasil no último ano, e que com certeza vai ser cobrado ao longo do seu curso ou da sua prática médica. O tema é a vacina fracionada da febre amarela, e o seu potencial de gerar imunidade.
A febre amarela é uma doença viral hemorrágica, transmitida por vetores infectados com o vírus dessa doença. Prevalece principalmente em áreas endêmicas, como áreas tropicais da África e América do Sul. A doença pode ter duas apresentações, conforme a área de aquisição e o ciclo da doença: rural e urbana.
Falando do Brasil, a forma urbana, transmitida pelo Aedes aegypti, não ocorre desde 1942. Já a febre amarela silvestre, cujo vetor é o mosquito Haemagogus, foi a responsável pelos vários casos que aconteceram no último ano.
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É importante dizer que não existe tratamento específico para a febre amarela, além de suporte clínico. Por isso, o controle dos vetores e a vacinação são tão importantes na prevenção de morbidade e mortalidade por essa doença.
A vacina:
A vacina da febre amarela é produzida a partir do vírus da febre amarela 17D vivo atenuado. É comprovadamente eficaz na produção de imunidade por toda a vida em indivíduos saudáveis, na sua dose completa (0,5 mL).
Acontece que para produzir a vacina, são necessários ovos embrionados livres de patógenos, num processo que leva até 1 ano para ser concluído. Por isso, não é fácil aumentar significativamente a produção dessa vacina em pouco tempo. No caso de surtos inesperados em áreas com menor cobertura vacinal da população, como ocorreu no Congo e Angola entre 2015 e 2016, ou no Brasil, entre 2017 e 2018.
E qual foi a solução encontrada pra esse problema?
A dose fracionada da vacina da febre amarela, que nada mais é que administrar apenas 1/5 da dose (0,1 mL) para cada pessoa. Com isso, você tem 5 vezes mais vacinas disponíveis, e com isso, pode proteger 5 vezes mais pessoas contra a doença.
Mas aí você pergunta: se é assim, por que então não se vacina todo mundo só com a dose fracionada e pronto? Porque não existiam estudos com essa dose que demonstrassem a mesma capacidade dela em gerar imunidade permanente a longo prazo como a dose plena da vacina. Ao longo do tempo, demonstrou-se que a imunogenicidade da dose fracionada se mantinha semelhante à dose plena por pelo menos 1 ano.
Um estudo de coorte de 2018 acabou comprovando, em pacientes que receberam a dose fracionada da vacina, que a imunidade permanecia efetiva após 8 anos da aplicação da mesma.
Agora, um estudo publicado na revista Annals of Internal Medicine no mês de novembro, investigou a presença e efetividade de anticorpos contra a febre amarela após 10 anos da aplicação da dose fracionada da vacina.
Resultado: a dose facionada protege por quanto tempo?
O estudo consistiu no acompanhamento de dois grupos de pessoas: um recebeu a dose plena da vacina, e o outro recebeu a dose fracionada. E, após 10 anos, foram avaliados e comparados quanto à presença de anticorpos protetores contra a febre amarela passado esse período.
A conclusão do estudo não mostrou diferença estatisticamente significativa entre os dois grupos quanto à proteção. Isso significa dizer que, tanto quem recebeu a dose plena, quanto a dose fracionada continuavam igualmente protegidos contra a febre amarela após 10 anos.
Dessa forma, o estudo sugere que a prática do uso da dose fracionada em situações de surto para imunizar grandes grupos populacionais é apropriada. Também propõe que não seria necessária a revacinação para gerar imunidade prolongada nessas pessoas.
Atenção!
Obviamente, o estudo tem as suas limitações. A pesquisa não conseguiu coletar dados de todos os pacientes do início do estudo após os 10 anos (perda de seguimento) e não considerou doenças de base possíveis na população que irá receber a vacina (como desnutrição, parasitas) que poderiam influencia em sua eficácia. Houve diferenças possíveis no potencial de gerar imunidade entre diferentes lotes da vacina, o que poderia prejudicar a abrangência dos resultados.
Mas o fato é que os estudos atuais indicam que a dose fracionada da vacina contra febre amarela é capaz de proteger as pessoas contra a doença por um longo período, assim como a dose plena.
Então o que eu faço? Oriento todo mundo que tomou a dose fracionada que estão protegidos para sempre e podem esquecer da febre amarela? Não, calma! Hoje, a recomendação do Ministério da Saúde ainda é de revacinar essas pessoas após 8 anos da vacinação com a dose fracionada. Mas vamos aguardar como esses novos estudos vão ser usados na orientação, e na nossa prática médica de maneira geral.
É isso galera! Continuem estudando, fiquem ligados no nosso blog, e aproveitem pra se cadastrar na nossa plataforma. Lá você encontra esse e muitos outros conteúdos de uma forma direta e moderna para te ajudar a estudar e aprender o que você precisa! Até a próxima.
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