O QUE É A MENINGITE MENINGOCÓCICA?
A meningite meningocócica é um tipo meningite bacteriana aguda causada pela Neisseria meningitidis (meningococo), que são diplococos Gram negativos.
A importância desta meningite em específico é a sua letalidade (principalmente nos casos em que ocorre meningococcemia) e sua prevalência em nossa sociedade que, segundo o Ministério da Saúde, é uma das principais formas de meningite, com grande capacidade de causar epidemias, sendo a meningite meningocócica a mais comum entre crianças e adolescentes, principalmente nos menores de 5 anos de idade.
No entanto, possui vacinação disponível para alguns sorogrupos da bactéria, quimioprofilaxia e tratamento adequados. Por isso, a grande preocupação e importância do tema.
COMO A DOENÇA É TRANSMITIDA?
A maioria dos casos de meningite é precedida pela colonização das vias aéreas superiores pelo agente etiológico, porém uma pequena parcela dos indivíduos carreadores irão manifestar alguma doença. Isso irá depender diretamente da virulência do microorganismo e dos fatores de defesa do hospedeiro. Sabemos também que é a reação imune do indivíduo, e não a presença da bactéria em si, a responsável pelas manifestações clínicas e complicações da doença.
QUANDO SUSPEITAR DA MENINGITE?
A meningite meningocócica, como qualquer outra meningite bacteriana, costuma se instalar de forma aguda, com surgimento de febre, cefaleia e rigidez de nuca (pelo menos um desses estando presente em mais de 90% dos casos). Também podem aparecer náuseas, vômitos, alterações do nível de consciência, convulsões. No exame físico, podemos notar alguns sinais de irritação meníngea (Sinal de Kernig, Sinal de Brudzinski). Vale a pena ressaltar que a presença de irritação meníngea não é obrigatória e, muitas vezes, tanto em adultos quanto em crianças, estará ausente.
Nas crianças mais novas (menor do que 2 anos de idade), raramente encontramos irritação meníngea, e devemos desconfiar do diagnóstico no surgimento de febre, irritabilidade, agitação, choro persistente, grito ao ser manipulada ou fletir as pernas, recusa alimentar, vômitos, convulsões.
O “rash” cutâneo tão famoso da meningococcemia (sepse por meningococo) se caracteriza por petéquias, púrpuras e equimoses, que evoluem rapidamente após o surgimento da febre. Aqui se encontra a principal preocupação da doença.
COMO É REALIZADO O DIAGNÓSTICO?
No caso de suspeita diagnóstica, devemos coletar hemoculturas, realizar a punção lombar para análise do líquor e, posteriormente, iniciar antibioticoterapia empírica. No entanto, caso haja qualquer fator que possa atrasar a coleta liquórica, devemos iniciar o antibiótico antes mesmo da punção lombar.
Apesar da coleta liquórica ser de suma importância, em algumas ocasiões devemos solicitar um exame de neuroimagem antes da punção lombar (a fim de descartar presença de hipertensão intracraniana ou lesão que pudesse levar à herniação cerebral durante o procedimento de coleta do líquor): pacientes com história de imunossupressão ou neoplasia, alteração do nível de consciência, papiledema, déficit neurológico focal.
Na grande maioria dos casos, o líquor no quadro de meningite bacteriana aguda (consequentemente na meningite meningocócica) é rico em células (com predomínio de neutrófilos ou polimorfonucleares), com glicose consumida (inferior a 40 mg/dL ou com relação inferior a 0,4 quando comparada à glicose sanguínea), com proteína aumentada (maior que 45 mg/dL).
POR QUE DEVO ME PREOCUPAR MAIS NOS QUADROS EM QUE O PACIENTE APRESENTA SUSPEITA DE MENINGOCOCCEMIA, SEM MENINGITE?
Nesses casos, acredita-se que a proliferação de meningococos está acontecendo de forma tão rápida que não há tempo para estes atingirem as meninges nem para o organismo ser capaz de produzir uma resposta inflamatória. Portanto, é um quadro de emergência a ser suspeitado e tratado. Caso contrário, o desfecho pode ser trágico.
E COMO POSSO TRATAR ESSA SITUAÇÃO TÃO PREOCUPANTE?
A principal conduta a ser realizada imediatamente é o início da antibioticoterapia adequada, sendo capaz de diminuir em muito a mortalidade da doença meningocócica. Dessa forma, na suspeita de meningite desta etiologia, as opções terapêuticas são Ceftriaxone ou Cefotaxima, tendo como alternativa a Ampicilina (duração de 7 a 10 dias). Além disso, hidratação venosa adequada é de suma importância para o manejo desses pacientes.
EXISTE VACINA OU FORMAS DE PREVENIR A DOENÇA?
Sim! Essa é uma notícia boa! Devido a diversos surtos que ocorreram no Brasil nas décadas passadas, o Ministério da Saúde oferece no calendário vacinal a vacinação contra o sorogrupo C do meningococo. Segundo o calendário de 2018, as doses devem ser realizadas aos 3 meses de idade, aos 5 meses e uma dose de reforço aos 12 meses.
O QUE DEVO FAZER SE TIVER CONTATO COM ALGUÉM COM SUSPEITA DE MENINGITE MENINGOCÓCICA?
Apesar de não ser totalmente capaz de evitar a doença, existe quimioprofilaxia para os contatos íntimos de pacientes com doença meningocócica e para os próprios pacientes no momento da alta hospitalar (em casos em que não foram utilizados Ceftriaxone ou Cefotaxima). A quimioprofilaxia está indicada até 30 dias após o contato íntimo com esses pacientes.
Os contatos íntimos são definidos como aqueles que possam ter contato com a saliva do paciente afetado (crianças da mesma creche, sala de aula, familiares e profissionais de saúde que tenham manipulado de alguma forma as vias aéreas do doente).
AGORA JÁ SABEMOS COMO CONDUZIR UM CASO SUSPEITO OU CONFIRMADO DE DOENÇA MENINGOCÓCICA!!!