As doenças cardiovasculares são a principal causa de morte no mundo e acometem grande parcela da população. Sendo assim, no meio dessa pandemia sem precedentes que estamos vivendo (Covid-19), esses pacientes também são muito afetados, sendo componentes de um dos principais fatores de risco de óbito pela doença.
TUDO BEM, MAS O COVID-19 É CAPAZ DE CAUSAR DANOS CARDIOVASCULARES?
Frente aos dados que temos até agora, tudo indica que sim! Os danos cardiovasculares evidenciados com capacidade de serem ocasionados pelo vírus deriva de uma variedade de causas, como injúria viral direta ao miocárdio, e complicações secundárias à inflamação e resposta trombótica ocasionada pela infecção.
É COMUM OCORRER COMPLICAÇÕES CARDIOVASCULARES DURANTE A INFECÇÃO POR COVID-19?
O que temos de dados na Literatura até agora sugere um importante acometimento através de injúria miocárdica (20% dos casos), arritmias (16%), miocardite (10%), insuficiência cardíaca e/ou choque cardiogênico (5% dos casos).
O QUE É INJÚRIA MIOCÁRDICA?
No contexto abordado nesse artigo, a injúria miocárdica é uma situação que reflete sofrimento cardíaco, sendo determinada por aumento dos níveis de troponina sérica e/ou alterações eletrocardiográficas sugestivas de isquemia.
Por definição, a injúria miocárdica é apresentada quando o nível de troponina sérica se encontra acima do percentil 99th da referência utilizada.
COMO OCORRE O DANO CARDÍACO OCASIONADO PELO NOVO CORONAVÍRUS?
Ainda não temos essa resposta ao certo, mas, com os dados atuais, acredita-se que esse dano é multifatorial, podendo ser resultado de um desbalanço entre a grande demanda metabólica durante a infecção e uma reserva cardíaca menor, associada com o potencial inflamatório e trombogênico da doença, além da possibilidade de lesão cardíaca direta pelo vírus.
QUALQUER PACIENTE ACOMETIDO PELO COVID-19 PODE MANIFESTAR COMPLICAÇÕES CARDIOVASCULARES?
Sim! Embora seja muito mais comum que isso ocorra nos pacientes com algum fator de risco cardiovascular preexistente, como hipertensão arterial sistêmica, idade avançada, diabetes ou cardiopatia prévia.
O QUE QUER DIZER O NÍVEL DE TROPONINA SÉRICA AUMENTADO EM ALGUNS DOS PACIENTES COM DOENÇA PELO COVID-19?
A resposta inflamatória ocasionada pela infecção viral pode culminar no aumento de diversas citocinas e proteínas relacionadas com estado inflamatório crítico. Dentre essas proteínas elevadas no componente sérico, a troponina é uma delas.
A maioria dos estudos demonstra associação direta entre o aumento da troponina sérica e a gravidade da doença manifestada por esses pacientes. Indivíduos com marcadores de injúria miocárdica necessitam mais de internação em UTI e também possuem maior risco de evoluir para insuficiência cardíaca e óbito durante o curso da doença.
Sendo assim, acredita-se que a troponina, além de marcador de injúria miocárdica, também possa ser considerada como fator de mau prognóstico para esses pacientes.
As complicações cardiovasculares como insuficiência cardíaca, miocardite, infarto agudo do miocárdio, choque e arritmias também parecem ser mais frequentes nos pacientes com injúria miocárdica documentada.
MECANISMOS DE LESÃO MIOCÁRDICA E COVID-19:
– Secundária ao desequilíbrio entre oferta e demanda de oxigênio: a infecção pelo Covid-19 pode ser capaz de promover intensa resposta inflamatória, culminando em sepse e insuficiência respiratória, o que acarreta elevação de biomarcadores de lesão miocárdica. Esse desequilíbrio entre oferta e demanda de oxigênio, sem ruptura de placa aterosclerótica, é o que define o infarto do miocárdio do tipo 2.
– Lesão microvascular: provável formação de microtrombos na vasculatura do miocárdio, devido ao estado de hipercoagulabilidade ocasionado pela doença (assim como ocorre na coagulação intravascular disseminada).
– Resposta inflamatória sistêmica: as manifestações mais graves da doença por Covid-19 apresentam grandes processos inflamatórios, com níveis elevados de marcadores como IL-6, proteína C-reativa, TNF-alfa, interleucina-2R e ferritina, fatores que podem estar relacionados também com a cardiomiopatia ocasionada pela doença.
– Síndrome coronariana aguda: a infecção viral pode estar associada a um maior risco de eventos ateroscleróticos e, consequentemente, coronarianos.
– Lesão miocárdica viral direta: um dos mecanismos propostos para a lesão miocárdica ocasionada na infecção por Covid-19 seria a infecção viral direta do miocárdio, ocasionando miocardite.
COVID-19 E MIOCARDITE:
Episódios de miocardite e insuficiência cardíaca foram relatados e associados com a infecção por Covid-19. Estes foram descritos com casos de miocardite fulminante, de rápida progressão e importante disfunção ventricular, em associação com edema miocárdico difuso. Essa população de pacientes apresentava alteração eletrocardiográfica e aumento da troponina sérica.
INTERAÇÃO DO SARS-CoV-2 COM A ENZIMA CONVERSORA DA ANGIOTENSINA 2: POSSÍVEL CAUSA PARA O DANO CARDÍACO?
Alguns estudos têm sugerido que o dano causado ao sistema cardiovascular pelo Covid-19 pode estar relacionado com a enzima conversora de angiotensina 2 (ECA2), que se encontra em grande quantidade no tecido pulmonar e cardíaco.
Uma das rotas que o vírus utiliza para adentrar na célula do hospedeiro é se ligando na ECA2. Por isso, uma possível justificativa para o dano pulmonar e cardíaco.
Além disso, pacientes previamente cardiopatas possuem grande expressão de ECA2, o que também poderia justificar a apresentação mais grave desses indivíduos à infecção pelo coronavírus.
DOENÇA CARDIOVASCULAR COMO RISCO PARA FORMA SEVERA DE COVID-19:
Pacientes com fatores de risco cardiovascular (ex.: idosos, hipertensão arterial sistêmica, diabetes), assim como pacientes com doença cardiovascular prévia (doença arterial coronariana, cardiomiopatias e doença cerebrovascular), possuem uma susceptibilidade maior para o desenvolvimento das formas graves da doença pelo Covid-19, assim como complicações cardiovasculares.
Os dados mais recentes revelam que 80% dos pacientes que desenvolvem a forma grave possuem alguma comorbidade. Dentre elas, as mais comuns são hipertensão arterial, diabetes e doença cardiovascular. As complicações do sistema cardiológico também são mais presentes nesse perfil de pacientes.
REALIZAÇÃO DE ELETROCARDIOGRAMA E DOSAGEM DE TROPONINA SÉRICA:
É razoável a recomendação de realização de eletrocardiograma e dosagem de troponina sérica daqueles pacientes infectados pelo Covid-19 com indicação de internação hospitalar, visto o maior risco de desenvolvimento de complicações cardiovasculares naqueles pacientes que possuam alguma alteração nesses exames.
TELEMEDICINA E CARDIOLOGIA X COVID-19:
Devido à facilidade da disseminação viral causada pelo coronavírus, o distanciamento social foi determinado como um fator importante para a redução da velocidade de propagação da doença. Sendo assim, o uso da tecnologia e da informação se torna um grande aliado para uma resposta emergencial, apoiando o diagnóstico de doenças e auxiliando nos cuidados de rotina durante um surto de doença infecciosa como o que estamos enfrentando.
A Sociedade Brasileira de Cardiologia emitiu uma diretriz em telemedicina aplicada à cardiologia (telecardiologia). Essa diretriz pode ser considerada uma importante aliada ao sistema de saúde (público ou privado), promovendo a atenção integral à saúde.
No estágio atual da pandemia, a telemedicina é uma ferramenta útil, ainda mais nos pacientes de alto risco, como aqueles com doenças cardiovasculares, reduzindo a exposição destes ao Covid-19 e também contribuindo para o controle das comorbidades crônicas como diabetes e hipertensão arterial.
Muito bom !! Parabéns