Mais um pouco de informação sobre a nossa “História da Medicina”. Desta vez, o grande protagonista é o marcapasso cardíaco artificial! Convenhamos que, independente de ser cardiologista, gostar de cardiologia ou não, temos que admitir que essa foi uma das intervenções mais espetaculares da história da Medicina.
São dispositivos capazes de mudar positivamente a qualidade de vida dos pacientes, além de melhorar o prognóstico daqueles indivíduos portadores de bradiarritmias graves ou distúrbios importantes do sistema de condução cardíaco.
É difícil pensar em outras áreas em que a intervenção da tecnologia foi tão decisiva como na estimulação elétrica artificial do coração.
COMO FUNCIONA UM MARCAPASSO CARDÍACO?
Basicamente, ele é um dispositivo que utiliza impulsos elétricos para estimular / facilitar o batimento cardíaco. O coração, dentro da normalidade, possui um sistema elétrico próprio capaz de controlar o ritmo cardíaco.
Em algumas situações em que este circuito elétrico não esteja funcionando da forma mais adequada, o marcapasso implantável estará indicado.
TIPOS DE MARCAPASSOS:
Eles podem ser divididos / classificados de diversas formas:
– Temporários: utilizados nos casos de bradiarritmias reversíveis ou em pacientes que irão aguardar durante curto período por um definitivo, mas que não são capazes de ficar sem estímulo artificial (ex.: marcapassavo transcutâneo; transvenoso);
– Definitivos: talvez sejam os mais conhecidos. Aquele dispositivo que fica implantado em uma loja do tórax do paciente, de forma definitiva, nos casos de lesões potencialmente deletérias do sistema de condução cardíaco;
– Unipolares ou Bipolares: os primeiros quando apenas um pólo (geralmente o negativo) entra em contato com o miocárdio, ou bipolares quando os dois estão em contato. Em geral, somente os marcapassos definitivos “aceitam” a configuração unipolar.
– Unicamerais, bicamerais, multissítio: os primeiros quando apenas o átrio ou o ventrículo é estimulado / monitorado, bicamerais quando as duas câmaras estão sob interferência. Os multissítios são aqueles que a estimulação / monitorização é realizada no átrio direito e ambos os ventrículos.
– De demanda ou não competitivos: quando “respeitam” o ritmo próprio do paciente.
– Competitivo ou assincrônico: exatamente o oposto do citado anteriormente.
– Endocárdicos ou Epicárdicos: classificação que leva em conta como os eletrodos foram implantados. Os primeiros quando o implante é transvenoso, enquanto os segundos quando o implante é realizado via toracotomia.
– Não programáveis, programáveis, multiprogramáveis: de acordo com quantos parâmetros do dispositivo podem ser alterados e programados. Atualmente, todos os marcapassos definitivos comercializados são multiprogramáveis.
QUAIS SÃO OS COMPONENTES DE UM MARCAPASSO?
Em geral, são constituídos por um gerador e um ou mais eletrodos. O gerador, no caso dos sistemas definitivos, possui uma fonte de energia, geralmente uma bateria de Lítio, com circuito eletrônico fechado hermeticamente por titânio ou algum outro metal bioinerte.
No circuito eletrônico é onde se encontra os módulos com as funções de telemetria (por onde ocorre a transmissão entre a programação que o médico deseja para aquele aparelho – através do programador – aquela “máquina” que o médico acopla no tórax do paciente para “interrogar” o marcapasso), os temporizadores, a memória, circuito de saída e módulo de segurança.
TUDO BEM, GUILHERME! MAS, AFINAL, QUAL É A HISTÓRIA DO SURGIMENTO DESSES APARELHOS?
Um enorme número de indivíduos contribuiu para a evolução do aparelho de marcapasso. Inicialmente era um modelo gigante, funcionando praticamente “a mão”, chegando a um modelo pequeno, implantado embaixo da pele do paciente, com uma bateria muito duradoura.
– Uma breve linha do tempo:
A primeira tentativa de estimular o coração através de descargas elétricas foi realizada no século XIX (testes feitos em pacientes decapitados condenados à morte).
Um tempo depois, dois médicos de Dublin, Irlanda, descobriram que a arritmia cardíaca era capaz de causas inconsciência súbita. Em 1882, Hugo von Ziemssen, cardiologista alemão, fez as primeiras simulações elétricas no miocárdio.
No ano de 1930, foi desenvolvido um modelo precursor do marcapasso (A.S. Hyman), reanimando um coração com impulsos elétricos conduzidos para o interior da caixa torácica por meio de uma agulha. O equipamento tinha um peso aproximado de sete quilos e era movido por um relógio, necessitando de corda a cada seis minutos.
Em 1952, o cardiologista americano Paul Zoll construiu um marcapasso implantável externo capaz de aplicar descargas elétricas (muito dolorosas) na superfície torácica dos pacientes.
Já em 1958, o americano Wilson Greatbatch e o sueco Rune Elmqvist desenvolveram um marcapasso implantável utilizando transistores. No dia 8 de outubro deste mesmo ano, o equipamento foi implantado em Arne Larsson, paciente com importante distúrbio da condução elétrica cardíaca.
Aqui, é determinado o início da era dos marcapassos e também da tecnologia futura do desfibrilador. O paciente foi Arne H. W. Larsson, sendo a cirurgia ocorrida em Estocolmo, Suécia.
Em meados da década de 1960, os sistemas de eletrodos podiam ser passados para o coração por meio dos vasos sanguíneos e depois posicionados em uma câmara cardíaca.
A partir de 1970, com o surgimento das baterias de lítio e o uso dos circuitos de baixa potência, as unidades geradoras dos marcapassos passaram a ter uma vida útil de muitos anos. Por exemplo, em 1973, houve o lançamento do primeiro marcapasso recarregável comercial (a vida útil passou de um ano e meio para 20 anos).
Em 1978, foi lançado o primeiro marcapasso de chip único, permitindo a redução do tamanho do aparelho e se tornando um dispositivo mais confiável. Em 1979, surge o primeiro marcapasso com telemetria bidirecional, ou seja, há possibilidade de transmissão de dados do aparelho implantado para o computador do médico e vice-versa.
No decorrer dos anos, mais e mais avanços foram surgindo e o dispositivo implantável foi se tornando cada vez mais tecnológico e prático. Em 1993, a FDA aprova o cardioversor desfibrilador implantável (CDI) com marcapasso associado (antes, os pacientes que necessitassem dos dois dispositivos os utilizavam de forma separada).
Em 1995, é lançado o menor marcapasso do mundo para ser utilizado em crianças.
Em 2001, morre Arne Larsson, o paciente que recebeu o primeiro marcapasso do mundo.
Em 2003, a FDA aprova o primeiro sistema de monitoramento remoto dos pacientes com aparelhos cardíacos implantáveis, permitindo que os médicos os acompanhem em tempo real.
E agora essa “linha do tempo” dos dispositivos implantáveis não para mais! Cada vez mais, com uma velocidade cada vez maior, os dispositivos são aprimorados e há surgimento de novas tecnologias, inclusive os famosos “corações artificiais”.
Onde vamos parar com essa evolução?