Introdução
Hoje iremos fazer uma pergunta que pode assustar diversas pessoas: Hidroclorotiazida causa câncer de pele? Nesse artigo iremos explicar tudo de forma detalhada para que você tire todas as suas dúvidas relacionadas ao assunto.
O hidroclorotiazida (HCTZ) é um diurético tiazídico muito utilizado para Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS). É um derivado da sulfonamida, levemente solúvel em água e que se distribui principalmente no compartimento extracelular. O seu átomo de cloro pode sofrer dissociação pela radiação UVB (290 a 320nm), gerando a formação de radicais livres, proteínas e o DNA dos queratinócitos.
Já foram descritas várias reações medicamentosas com o HCTZ, incluindo dermatite liquenóide, angioedema, pitiríase rósea, AGEP, erupção fototóxica/alérgica, eritema multiforme e vasculite alérgica. Assim, são fotossensibilizantes, como outros diuréticos tiazídicos, diuréticos de alça, diuréticos poupadores de potássio e indapamida. Há varios relatos de queimaduras solares quando o uso conjunto de amilorida e hidroclorotiazida.
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Câncer de Pele
O câncer de pele não melanoma é a neoplasia mais comum. Sendo 30% de todos os tumores malignos diagnosticados no Brasil, particularmente em idosos. Alguns fatores de risco importantes são: a exposição à radiação UV, fototipos baixos de Fitzpatrick e uso de imunussupressores. Há relatos também de medicações protetoras, como AAS e outros AINEs, e inibidores de calcineurina tópicos.
Se liga!
Mas o que há disponível na literatura? Há relatos recentes de associação com o Carcinoma Epidermóide (CEC), com carcinoma de células de Merkel e tumores cutâneos malignos anexiais, todos com um aumento de risco com maiores doses de hidroclorotiazida ou maior tempo de uso.
Um trabalho relacionando risco aumentado de CEC e melanoma entre usuários de amilorida e hidroclorotazida combinados e um trabalho de coorte que relacionou a medicação com o linfoma cutâneo T (micose fungóide e a síndrome de Sézary), Neste, houve melhora das lesões em alguns pacientes com a suspensão e exacerbação ou recorrência da doença com o início do hidroclorotiazida.
A grande maioria dos trabalhos foram realizados num sistema de saúde uniformemente organizado (Dinamarca), onde os registros conseguem controlar fatores de confusão como uso de corticóides e doenças crônicas associadas, mas fica limitados a dados de prescrição do sistema de registro – será que os pacientes ingeriam a quantidade que estava prescrita? Será que não tomavam outras medicações fotossensibilizantes como automedicação? Também pode ter ocorrido um sub-registro dos casos de câncer de pele não melanoma, como os Carcinomas Basocelulares (CBC), já que na grande maioria, não são potencialmente fatais.
Também devemos considerar que não há o relato do fototipo dos pacientes, (será que todos eram fototipos I e II?) e dos hábitos de exposição ou proteção solar. Por último, não devemos esquecer que é muito comum a prescrição de amilorida e outros diuréticos com a HCTZ, que pode ter tido um efeito sinérgico.
Veja também: “Protetor Solar: mitos, verdades e conceitos.”
Chegando ao fim …
O trabalho que relacionou o linfoma cutâneo B com o diurético tinha um uso de HCTZ maior que o uso na população em geral (14,2% versus 5,8% na população geral) e pacientes com idade média elevada (62,4 anos), compatível com a idade da MF. Claro que o o fato de muitos pacientes tomarem HCTZ não prova causalidade. Pra complicar mais, o HCTZ pode causar uma reação cutânea que se parece com a Micose Fungóide.
A HCTZ seria um antígeno incitante da MF? Neste trabalho, os pacientes fechavam os critérios clínicos e histológicos para a MF, sendo considerado apenas uma discordância semântica ser uma reação a droga ou uma MF. Apenas uma último dado para te deixar mais confuso: a incidência é alta de Hipertensão Arterial Sistêmica em pacientes com linfoma de cutâneo de células T e já foi sugerido que o linfócito T pode participar da patogênese da HAS.
E agora?
Vamos suspender de todo mundo? Olha que é muita gente… Como comparar a nossa grande diversidade de fototipos no Brasil com esses trabalhos?
Uma história clínica bem feita é muito importante para avaliar a necessidade de suspensão ou utilização do diurético, já que existe uma lista enorme de medicações fotossensibilizantes também muito utilizadas, como antinflamatórios (ibuprofeno, cetoprofeno), antibióticos (doxiciclina, quinolonas, sulfas), antifúngicos, antihistamínicos, tranquilizantes e estatinas; e outros antihipertensivos com indicações semelhantes.
A interrupção pode ser útil naqueles com história prévia de câncer de pele ou fatores de risco significativos. E não podemos esquecer de avaliar os hábitos de exposição solar, tanto ocupacional ou recreacional, e educar o paciente quanto às medidas de proteção solar e o diagnóstico dos cânceres de pele. A clínica deve e é sempre soberana, até na dermatologia.
Beijos queridos! Até a próxima!
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