Anatomia renal
Quando falamos da anatomia renal, temos que compreender o seu correto funcionamento, associado a histologia, patologia e fisiologia. Assim, conseguimos atuar de maneira adequada nas desordens que o nosso organismo venha a apresentar.
Os rins são estruturas que estão localizadas na porção posterior do abdome. Normalmente, cada ser humano possui dois rins, cada um deles pesando cerca de 150 gramas, sendo facilmente reconhecido em exames de imagem por seu formato semelhante a um feijão.
Cada um deles é composto por milhares de néfrons, estruturas que são responsáveis pela formação da urina, e cada um desses milhares de néfrons é composto por um glomérulo renal.
Esses glomérulos vão se ramificando e se tornando cada vez mais finos, adquirindo formato de tubos, por onde essa urina, que será formada, vai caminhar em direção à bexiga. Uma das estruturas que compõe esses “tubos” é a alça de Henle.
A alça de Henle é uma das estruturas mais importantes para a manutenção do funcionamento desse sistema. A alça de Henle compõe o néfron e é a estrutura subsequente após o túbulo contorcido proximal.
Possui formato de um “U”, apresentando uma de suas extremidades mais espessa do que a outra. Sua principal função é trabalhar juntamente com as outras estruturas renais e promover a reabsorção de água e eletrólitos como sódio, potássio e cálcio, contribuindo para um aumento da concentração urinária.
Ela foi assim denominada como formato de homenagem para o grande médico que provou a sua existência, assim como as suas variadas funções.
Mecanismo de contra-corrente renal
A maior parte do filtrado glomerular será reabsorvido no túbulo proximal com uma osmolaridade aproximada de 300 mosm.
Devido ao formato de U que a alça de Henle apresenta, ela é responsável por desempenhar uma importante função fisiológica, chamado de mecanismo de contra-corrente.
A Alça possui uma porção ascendente e outra descendente. Sabe-se que sua porção ascendente é impermeável à passagem de água, enquanto na descendente a água consegue passar.
Como consequência disso, o sódio que é reabsorvido para o líquido peritubular não é acompanhado da saída de água, como ocorre normalmente em outros sistemas.
Sendo assim, a osmolaridade no final da alça de Henle é menor do que no começo.
A medida que o filtrado vai se movimentando pelo sistema urinário, esse líquido vai se tornando mais concentrado, devido à grande perda de água que ocorreu na porção descendente, chegando em concentrações osmolares próximas de 1.200 mosm.
Nesse mecanismo de contra-corrente renal, ocorrem algumas trocas de fluidos. A porção ascendente da alça de Henle é impermeável à água, mas não aos íons, os quais serão perdidos para o líquido peritubular nesse momento.
A medida que o filtrado glomerular passa pela porção descendente da alça de Henle, ele encontra o liquido que está ao redor do túbulo renal (mais concentrado devido a essa impermeabilidade à água).
Por isso, o sódio do líquido peritubular entrará para a alça de Henle em sua porção descendente e a água irá sair, fazendo com que a osmolaridade se eleve.
Um dos mecanismos mais importantes da contra-corrente na alça de Henle é o fato de na porção ascendente ter a bomba de sódio e potássio, que irá fazer com que a concentração osmolar entre o filtrado no túbulo seja equivalente à concentração no líquido peritubular.
Um outro fator que contribui para essa troca osmolar é o fato de os vasos sanguíneos caminharem em posição de contra-corrente com o túbulo renal.
Então, a medida que o fluxo nos túbulos vai da esquerda para a direita, o fluxo de sangue vai da direita para a esquerda.
Biografia
Nascido em Fürth, na Alemanha no dia 9 de julho de 1809, o então médico e patologista Friedrich Gustav Jakob Henle teve um propósito diferente em sua carreira médica.
Frequentou a faculdade de Medicina da Universidade de Heidelberg e em Bonn, formando-se médico nesta instituição em 1832. Durante os anos de graduação, Henle foi membro da associação de estudantes (Burschenschaft), no ano de 1829.
Porém, após o comportamento irresponsável dos seus colegas de profissão, decidiu por abrir mão desse cargo e transferiu-se de universidade, terminando seus estudos em Heidelberg, no ano de 1830.
Depois disso, ele voltou a sua atenção e estudos para a anatomia humana, tornando-se um professor renomado de Berlim e realizando diversas monografias que complementariam os seus estudos posteriormente.
Passado alguns anos, foi convidado a lecionar não só anatomia, como também fisiologia e patologia em uma universidade de Heidelberg. Lá, foi autor de vários livros e manuais que abordavam sobre anatomia e patologia, marcando o início de uma história.
Em 1852, agora morando em Gotinga, ele continuou os seus estudos e continuou com a sua incessante publicação de livros na área da saúde, publicando o Livro de Anatomia Humana Sintética.
Este disparado foi um dos seus livros mais completos, com ilustrações magníficas que o permitiram detalhar com clareza a anatomia dos vasos sanguíneos, rins, entre outros.
Com esse trabalho, Friedrich conseguiu demonstrar ao povo a estrutura renal que receberia o seu nome, a alça de Henle.
Como nem tudo na vida são flores, Friedrich Henle foi preso após certos conflitos políticos. Ao que tudo indica, seus amigos da associação de estudantes o qual fez parte em Bonn eram rivais, estando Henle detido no ano de 1835 para aguardar o seu julgamento.
Após intervenção de um amigo chamado Alexander von Humboldt, conseguiu ser libertado após 1 mês de confinamento no presídio.
Foi condenado a 6 anos de prisão e exonerado do cargo de promotor que havia conseguido. Porém, logo mais foi perdoado e conseguiu retornar às suas atividades laborais.
Quanto as questões amorosas, ainda em Zurique, Friedrich Henle se apaixonou por uma mulher chamada Elise Egloff, uma simples governanta que trabalhava para um de seus amigos.
O casamento foi em março do ano de 1846 e, desse casamento, nasceram dois filhos. Infelizmente, esse casório não teve um final feliz, pois devido a complicações da tuberculose, sua esposa veio a falecer dois anos depois.
Mas Henle ainda estava em busca de aventuras românticas, casando-se novamente no ano de 1849 com Maria Richter, com quem ele teve mais 5 filhos.
Em um de seus incessantes estudos, Henle estudou a histologia de alguns tecidos, denominando os elementos que constituíam o epitélio de “células”.
Além disso, descreveu também o epitélio que revestia a bexiga dos pacientes, sendo este epitélio um epitélio intermediário entre os tipos cilíndricos e pavimentoso.
Henle também descreveu que estes epitélios eram os responsáveis por recobrir todas as superfícies internas que continham líquidos livres no corpo humano, além de todas as paredes de suas cavidades.
Um outro estudo que alavancou sua carreira foi o estabelecimento da anatomia microscópica dentro do currículo dos estudantes de medicina de sua universidade, fato este que, até então, não existia.
O estudo microscópico da anatomia humana revelou uma série de descobertas, sendo importantíssimo para o reconhecimento de todas as estruturas responsáveis por manter a organização funcional do corpo humano.
Seu nome ficou conhecido no ano de 1862, quando ele observou, em seus estudos que, no sistema urinário, havia dois tubos coletores: cada um estava conectado a um diferente corpúsculo renal.
Descobertas
Além de ser o profissional responsável por observar a Alça de Henle, Friedrich também deu seu nome às outras estruturas que conseguiu relatar através de seus estudos. Entre elas, temos as criptas de Henle, que são estruturas em formato de bolsas, visualizadas microscopicamente e estão localizadas na conjuntiva do olho dos indivíduos.
Além disso, foi descoberto as fissuras de Henle, que se caracterizava por um tecido fibrótico localizado entre as fibras musculares do coração. Também observou o ligamento de Henle, que estaria localizado no músculo transverso do abdome, entre diversas estruturas.
Sua vida foi breve. Henle veio a falecer no ano de 1885 por complicações decorrentes de um sarcoma renal e espinhal que ele possuía. Mas apesar de tudo, deixou seu legado na história da Medicina. Faleceu sendo um dos médicos mais renomados da década.
Foi responsável por melhorar o estudo da Medicina nas universidades, além de contribuir com o futuro dos pacientes, ajudando no reconhecimento da anatomia e fisiologia das estruturas que compõem o corpo humano.
Mais uma vez, chegamos a conclusão de que os médicos não são apenas médicos, e sim pesquisadores, que estão sempre em busca de proporcionar melhoras na saúde do Brasil e do mundo com seus estudos.
Friedrich Henle foi mais um dos inúmeros exemplos que temos de grandes figuras da Medicina, responsável pela descoberta de estruturas que mudaram a perspectiva da anatomia e fisiologia renal.
Com isso, nada mais justo do que Henle ser lembrado toda vez que um calouro de Medicina do ciclo básico estuda a anatomia dos rins.