Na abordagem inicial da dor torácica, na unidade de emergência, devemos raciocinar de acordo com perfil do paciente, as características da dor, sintomas associados e sinais clínicos até chegar na causa provável.
Nessa sessão, nosso objetivo é fazer você pensar como se fosse o chefe da sala de emergência! Diagnosticando o paciente e, ACERTANDO a questão.
A ideia aqui é que você memorize o PERFIL de cada paciente com dor torácica, já que, as questões que abordam o tema, o fazem SEMPRE de maneira clássica.
Ao final desse texto, você deverá saber reconhecer as principais etiologias. Não é nosso objetivo esgotar cada causa de dor torácica, mas sim fazer VOCÊ chegar ao diagnóstico da questão só com a história e o exame físico.
Vamos começar?! Vamos caso a caso…
CASO 1:
Paciente 53 anos, sexo masculino, hipertenso mal controlado, é admitido em hospital geral com dor retroesternal em aperto, forte intensidade, com irradiação para o braço esquerdo. Ao exame, encontra-se taquipneico, pálido, sudoreico e acianótico.
PA 156×95 mmHg FC 99 bpm SpO2 96%
Ritmo regular, sem sopros. MVUA com crepitações basais bilaterais.
Restante sem alterações.
DIAGNÓSTICO ETIOLÓGICO: SÍNDROME CORONARIANA AGUDA
PONTOS-CHAVE: homem; fatores de risco; dor em aperto (típica) com irradiação para MSE; sudorese; exame clínico pouco expressivo (no caso, crepitações sugerindo congestão pulmonar) acompanhado de sudorese e palidez.
CASO 2:
Mulher, 45 anos, obesa mórbida, diabética e hipertensa, trazida ao PS após síncope no ambiente de trabalho. Nega dor torácica ou história de IAM prévio. Admitida consciente, orientada, taquipneica, acianótica. Extremidades frias. Pulsos finos.
PA 85×46 mmHg FC 49 bpm FR 28 irpm
DIAGNÓSTICO ETIOLÓGICO: SÍNDROME CORONARIANA AGUDA.
PONTOS-CHAVE: mulher com fatores de risco; ausência de dor mas, presença de equivalente anginoso (mais comum em mulheres, obesas e diabéticas), bradicardia e hipotensão.
CASO 3:
Mulher, 39 anos, tabagista, em uso de anticoncepcional combinado, procura serviço de emergência devido a dor torácica iniciada há cerca de 12h, que piora com a respiração.
Ao exame: Consciente, orientada, taquipneica, acianótica.
FR 32 irpm FC 110 bpm SpO2 96% PA 139×82 mmHg
Durante espera de realização de exames complementares evolui com hemoptise.
DIAGNÓSTICO ETIOLÓGICO: TEP
PONTOS-CHAVE: mulher com fatores de risco (anticoncepcional + tabagismo); dor pleurítica aguda; dispneia e taquicardia; hemoptise. Só faltou dizer que estava com sinais de TVP. Outro exemplo, é o do paciente no pós-operatório imediato ou paciente portador de neoplasia.
CASO 4:
Homem, 24 anos, sem comorbidades, queixa-se de dor torácica que piora com a inspiração profunda e dispneia progressiva há 5 dias. Ao exame encontra-se taquicárdico e dispneico. Ausculta pulmonar com crepitações até 1/3 médio bilateralmente. Ritmo regular em 3T (B3). Precordio hipercinético. Ruído sisto-diastólico contínuo e grave, pancardíaco. Abdome e MMII edemaciados. Extremidades quentes.
História pregressa: infecção de garganta há 1 mês.
DIAGNÓSTICO ETIOLÓGICO: PERICARDITE AGUDA
PONTOS-CHAVE: homem jovem; história de IVAS recente (infecção pelo vírus Coxsakie); dor pleurítica, sinais de congestão pulmonar e sistêmica (insuficiência cardíaca), ausculta de som compatível com atrito pericárdico, melhora da dor em posição sentada com o corpo inclinado a frente.
CASO 5:
Homem, 63 anos, hipertenso e tabagista, chega à emergência com dor retroesternal lancinante iniciada há 1 hora enquanto carregava caixas pesadas no trabalho. Refere irradiação para o dorso. Ao exame: PA 175×105 mmHg FC 102 bpm SpO2 94% FR 38 irpm. Pulsos radiais discrepantes (direito > esquerdo). Ritmo regular, sopro diastólico 4+/6+ no foco aórtico e aórtico acessório. MV com crepitações difusas bilaterais.
Abdome e MMII sem alterações significativas.
DIAGNÓSTICO ETIOLÓGICO: DISSECÇÃO AÓRTICA
PONTOS-CHAVE: homem idoso; tabagista e hipertenso, dor súbita intensa (lancinante) com irradiação para o dorso após esforço significativo, assimetria de pulsos periféricos, sopro de regurgitação aórtica e sinais de insuficiência cardíaca aguda.
CASO 6:
Mulher 43 anos, procura PS clínico, em virtude de dor retroesternal, intermitente associada à disfagia ocasional há 3 meses, mas, que hoje está mais intensa. Nega quaisquer comorbidades. Nega perda ponderal significativa.
DIAGNÓSTICO ETIOLÓGICO: ESPASMO ESOFAGEANO DIFUSO
PONTOS-CHAVE: Mulher sem comorbidades, presença de disfagia associada à dor retroesternal, episódios agudos e ausência de fatores de risco cardiovasculares.
CASO 7
Mulher, 29 anos, sem comorbidades, exceto por transtorno de ansiedade generalizada, procura PS em razão de dor torácica difusa e intensa, iniciada há 24h. Refere piora da dor ao tossir e respirar. Dor precipitada à palpação dos arcos costais. Refere melhora parcial com analgésicos. Sem demais alterações ao exame físico.
DIAGNÓSTICO ETIOLÓGICO: COSTOCONDRITE AGUDA
PONTOS-CHAVE: Mulher jovem, associação com doença psiquiátrica, dor precipitada pela palpação das cartilagens costocondrais, ausência de fatores de risco cardiovasculares.
CASO 8
Homem, 31 anos, tabagista, procura emergência ao apresentar, há 3 horas, dor torácica à direita de forte intensidade, ventilatório-dependente associado a dificuldade para respirar. Nega tosse, hemoptise ou dor precordial. Sem comorbidades.
DIAGNÓSTICO ETIOLÓGICO: PNEUMOTÓRAX PRIMÁRIO ESPONTÂNEO
PONTOS-CHAVE: Homem jovem, tabagista, longilíneo, ausência de comorbidades (por isso primário) ou trauma (por isso espontâneo), dor tipo pleurítica e dispneia súbita.
CASO 9
Mulher, consulta no ambulatório por dor retroesternal em queimação há 6 meses, que piora com jejum e à noite. Refere alívio com antiácidos. Nega perda ponderal ou disfagia. Nega fatores de risco cardiovasculares. Há um mês iniciou tosse seca.
DIAGNÓSTICO ETIOLÓGICO: DOENÇA DO REFLUXO GASTROESOFÁGICO
PONTOS-CHAVE: Dor em queimação, melhora com antiácidos, sem fatores de risco cardiovasculares, presença de sintomas atípicos como a tosse seca, piora com a posição supina pós-prandial.
Veja também Direto ao Ponto: As Definições e as Causas da SCA e Direto ao Ponto: Abordagem Diagnóstica da SCA
AmeeeeeeeeeeeeI! Simples Assim!
Abrigada!!!!
Que bom Mari!