Quem nunca entrou em pânico em algum plantão quando se viu diante de uma folha de eletrocardiograma (ECG)? Como interpretar aquelas linhas sem ter vontade de “chamar o médico”?
Calma, existem algumas dicas básicas para uma rapida interpretação e que vão te ajudar a decidir se aquele paciente precisa ou não da avaliação de um especialista. O essencial é: saber identificar quando o ECG tem padrão de “normalidade”. Qualquer outro padrão diferente desse deve chamar a nossa atenção para uma melhor avaliação.
O que é um ECG normal?
O ECG é a representação do funcionamento elétrico do coração e pode evidenciar, além do ritmo e frequência cardíaca, se há alguma alteração na condução do estímulo elétrico durante o ciclo cardíaco. O padrão dito como normal, ou seja, que compreende a fisiologia do ciclo de estimulação elétrica do coração, é quando o ECG mostra um ritmo regular, sinusal, com frequência entre 60 e 100 batimentos por minuto, sem alterações no padrão de condução. Ficou confuso? Vamos explicar melhor…
Conhecimentos prévios
É bom manter em mente que o padrão de normalidade do ECG conta com uma onda P inicial, seguida de 3 ondas sequenciais, formando o complexo QRS (primeira onda negativa chama-se Q, primeira onda positiva chama-se R e a onda negativa que vem após a positiva chama-se S), e termina com a onda T, completando um ciclo cardíaco. Lembre-se que a onda P representa a contração atrial, o complexo QRS a contração ventricular, e a onda T o período de repolarização ventricular, preparando para o início de um novo ciclo. Além disso, é bom saber que o ECG conta com 12 derivações, sendo 6 chamadas de precordiais (V1, V2, V3, V4, V5 e V6) e 6 chamadas de frontais (DI, DII, DIII, avR, avL e avF). O eletrocardiograma é realizado a uma velocidade de 25mm/s e a uma voltagem de 10mV, em papel milimetrado (cada “quadradinho” do papel tem 1mm e corresponde a 0,4ms).
Como interpretar?
Primeiramente, observamos os espaços entre uma onda R e outra logo em sequência; esses espaços devem ter o mesmo tamanho para que o ritmo seja regular. Depois conte o número de “quadradinhos” entre uma onda R e a próxima em sequência; divida 1500 pelo número de quadradinhos encontrados, e você encontrará a frequência cardíaca do paciente.
Para dizer que o ritmo é sinusal, ou seja, ritmo cardíaco normal, observe as ondas P; elas devem ser positivas (para cima) em DI, DII e avF e negativa (para baixo) em avR.
O intervalo PR (início da onda P até o início do complexo QRS) é o espaço de tempo entre a contração atrial e a contração ventricular, e dura cerca de 120 a 200ms, ou seja, de 3 a 5mm. Alterações nesse intervalo podem indicar bloqueios na condução ou repolarização precoce. O segmento ST (final do complexo QRS até o início da onda T) é de grande importância no diagnóstico das síndromes coronarianas agudas, quando há desnivelamento para cima (supra) ou para baixo (infra); o padrão normal é que o segmento se mantenha neutro, na linha de base.
As ondas também devem ser avaliadas e, quando alteradas, podem indicar sobrecargas nas câmaras cardíacas, alterações eletrolíticas ou bloqueios de condução. A onda P tem normalmente padrão simétrico, com duração (horizontal) e amplitude (vertical) de cerca de 100ms (2,5mm). O complexo QRS varia em cada derivação, não necessariamente com as 3 ondas presentes em todas; tem duração de 100ms (2,5mm), amplitude de pelo menos 5mm nas derivações frontais e pelo menos 8mm nas precordiais, e alterações nessa conformação podem indicar bloqueios de ramo. A onda T tem padrão normalmente assimétrico e acompanha a polaridade do complexo QRS (se um é positivo, o outro também é).
Podemos também analisar o eixo elétrico de condução de modo prático. O eixo de condução elétrica do coração normalmente se encontra entre 0° e 90°; para identificar que o coração do paciente se encontra nesse intervalo, observe as derivações DI e avF – se o complexo QRS dessas derivações estiverem com polaridade positiva, ou seja, maior acima da linha de base do que abaixo, podemos dizer que o eixo elétrico está dentro dos padrões de normalidade. Desvios no eixo mostram alteração na massa de miocárdio (hipertrofias, por exemplo) e até mesmo destrocardia!
Em resumo
A interpretação do eletrocardiograma exige prática! A realização de um curso de interpretação de eletro pode ser muito útil. É importante avaliar o ritmo, a regularidade, a frequência cardíaca e a sequência das ondas eletrocardiográficas. Essas dicas servem para uma rápida avaliação e busca de padrões normais. Diante de alterações, procure um especialista ou alguém mais experiente e discuta o caso.