Introdução:
Você acabou de entrar na faculdade de Medicina e se depara com a matéria mais esperada (e também a mais temida) de todo o ciclo básico: a anatomia! No 1º período, você sentiu um pouco de dificuldade em decorar aquela infinidade de nomes e estruturas do aparelho esquelético, muscular e também do articular. Mas agora você começou o 2º período e, com ele, veio a neuroanatomia. Aquele infinito de nomes que você tinha que decorar no 1º período se multiplicaram por 100. Além disso, somou-se a fisiologia daquelas estruturas estudadas e, juntas, elas deram um nó em todos os sulcos e giros do seu cérebro.
No meio de tanto estudo sobre a anatomia e a fisiologia humana, chega uma hora que, com certeza, você se pergunta: para que eu tenho que saber isso? Certamente, a maioria dos estudantes de Medicina, ao entrarem na faculdade e começarem a estudar as primeiras matérias do ciclo básico, já se questionaram sobre isso. Esses dois primeiros anos são chamados de ciclo básico justamente pelo motivo de serem os períodos iniciais de algum curso, em que o aluno aprende todo o conteúdo que é reconhecido como fundamental para o entendimento dos outros ciclos da faculdade. É ele que vai dar a base para o aprendizado das matérias que estão por vir. Logo, é um período fundamental na sua vida acadêmica, em que você não pode deixar passar nenhum detalhe. Ao final deste artigo, você vai saber um pouco mais sobre o corpo caloso (que é uma das infinitas estruturas que você precisa entender/decorar) e qual a sua função dentro do nosso organismo.
Anatomia:
Dentro da nossa caixa craniana, nós temos algumas estruturas, dentre elas o telencéfalo. O telencéfalo compreende dois hemisférios principais, o direito, o esquerdo e, entre eles, há uma parte central. Esses dois hemisférios (direito e esquerdo) são separados de maneira não completa por uma fissura denominada fissura longitudinal do cérebro. O assoalho da fissura longitudinal é composto por um feixe de fibras, também chamado de corpo caloso, que é a única forma de conexão entre esses dois hemisférios que constituem o telencéfalo.
O corpo caloso, como já comentado no artigo, é uma estrutura formada pela união de diversas fibras mielínicas, que vão se cruzar no plano sagital do cérebro e penetrar no centro branco medular do mesmo, fazendo, então, a união dos dois hemisférios cerebrais. Estima-se que o corpo caloso seja formado por cerca de 200 a 250 milhões de projeções axônicas.
Nós podemos dividir o corpo caloso em tronco, joelho, esplênio e rostro do corpo caloso. O tronco do corpo caloso, também conhecido como corpo, corresponde a face superior da estrutura. Nele, nós conseguimos observar um sulco longitudinal. O joelho do corpo caloso nada mais é do que a extremidade anterior do mesmo. Ele constitui a sua região mais afinada. O esplênio do corpo caloso é uma dilatação posterior do tronco do corpo caloso. Essa estrutura vai sofrer uma flexão em sua parte mais anterior (indo em direção à base cerebral) e vai formar o joelho do corpo caloso. O fórnix é uma outra estrutura importante, que está associada ao corpo caloso. Ele é um conjunto de fibras, organizadas na forma de feixe e composto por duas metades: uma lateral e uma medial. Esses feixes são dispostos de maneira simétrica e as metades se unem entre si, por meio de um septo denominado de septo pelúcido.
Embriologia e histologia:
A formação do corpo caloso inicia-se, primeiramente, por volta da décima segunda semana de gestação, encontrando-se completamente desenvolvido quando o feto atinge a décima oitava semana de gestação, podendo ainda se evoluir até a vigésima semana. O tecido que origina o corpo caloso é o folheto embrionário ectoderma, tecido, este, que você, provavelmente, está familiarizado, devido sua importante função dentro da embriologia. Sua composição básica é de axônios de neurônios, que são recobertos por mielina, e formam fimbrias que irão cruzar todo o plano sagital mediano.
Funções do corpo caloso:
Essa estrutura anatômica possui importante papel no funcionamento de nosso organismo e na organização das informações que chegam até os hemisférios cerebrais. Dentre as funções mais importantes, podemos destacar como a principal o fato de que o corpo caloso irá facilitar a comunicação entre esses dois hemisférios do telencéfalo, como abordado anteriormente. De modo que, se o corpo caloso sofre alterações congênitas, como ocorre na agenesia de corpo caloso, a comunicação entre essas partes se torna praticamente impossível de ser realizada. Além dessa importante função, o corpo caloso também atua na designação de tarefas para os hemisférios, utilizando como modelo as suas programações. Há também estudos que mostram que o corpo caloso atua na movimentação dos olhos e participa de maneira ativa desse processo. Ele faz isso através da coleta de algumas informações provenientes dos músculos dos olhos e da retina daquele indivíduo, e leva para os hemisférios cerebrais, aonde esses estímulos vão ser processados.
Além dessas funções, é importante lembrar que o cérebro possui uma organização contralateral. Mas o que é isso? Como já falado, nós possuímos dois hemisférios cerebrais. O sistema nervoso dos seres humanos se conecta com o tecido cerebral de maneira cruzada. Isso significa que o lado direito do hemisfério cerebral é responsável por controlar o lado esquerdo do nosso corpo, enquanto o lado esquerdo do hemisfério cerebral fica com a função de controlar o lado direito do corpo humano, e isso nós chamamos de controle contralateral. Cientistas também evidenciaram que ambos os hemisférios cerebrais possuem atividades e funções um pouco distintas e independentes entre si. Como por exemplo, o lado direito se manifesta através da emoção e expressa isso através da linguagem visual daquele indivíduo, enquanto o hemisfério esquerdo manifesta-se pelo raciocínio, mas por outro lado se expressa pela linguagem oral.
Patologias:
O corpo caloso, assim como qualquer estrutura do corpo humano, pode sofrer alterações genéticas importantes, o que prejudica, quase que completamente, o seu funcionamento. Indivíduos que vierem a apresentar esse tipo de anomalia congênita, apresentarão intensa dificuldade em se comunicar, e com isso iremos encontrar afasias, dislalia ou disfasias no exame físico do paciente. A alteração genética do corpo caloso mais comum e conhecida é a agenesia de corpo caloso. Ela pode ser classificada em 3 tipos principais: na de tipo 1, nós classificamos as alterações aonde o corpo caloso é inexistente no cérebro desses pacientes. A tipo 2 é uma alteração parcial desse corpo caloso, e também é popularmente conhecida como hipogenesia de corpo caloso. Já na tipo 3, o paciente possui o seu corpo caloso adequadamente formado, possuindo apenas uma diminuição no seu tamanho habitual.
Conclusão:
O corpo caloso é uma estrutura anatômica extremamente importante para o funcionamento adequado do nosso corpo e na organização dos nossos sentidos, como por exemplo a audição, fala e até mesmo a visão. Indivíduos que possuem anomalias genéticas nesse segmento apresentam dificuldades no funcionamento dessas áreas, podendo apresentar falhas na fala e na visão. Portanto, o corpo caloso não é somente uma estrutura que existe para confundir nosso entendimento. Ele possui uma função imprescindível, logo, deve ser muito bem estudado e compreendido, para que possamos identificar, durante a nossa prática médica, quais os indivíduos possuem sintomas sugestivos de patologias nessa estrutura, podendo, então, ser capazes de tratá-los corretamente.