Sem dúvida nenhuma, a primeira preocupação do estudante de Medicina é a formação do currículo, com habilidades que o diferenciam na carreira médica.
Contudo, o aluno chega na faculdade depois de um ano (ou mais) inteiro de dedicação, estudos voltados para o ciclo básico, e entra na faculdade sem nenhum direcionamento para a construção do seu currículo.
Quais oportunidades a faculdade têm a oferecer?
Para te ajudar, apresento a descrição de cada oportunidade que a faculdade de Medicina oferece ao aluno de Medicina e também aquelas extracurriculares, que o aluno precisa procurar por fora, em ordem das mais comuns para as mais difíceis de conseguir, ou que os alunos, geralmente, deixam para se preocupar mais no final da faculdade:
- MONITORIAS
Monitor é o aluno que domina um determinado conteúdo e ensina seus calouros. Geralmente, para se tornar um monitor, o aluno precisa ser aprovado em uma prova, feita pelo professor coordenador daquela disciplina.
O modelo de aprovação varia de faculdade para faculdade e de cada professor também, que podem aplicar provas abertas, de múltipla escolha, práticas ou entrevistas.
Geralmente, abre-se um edital de monitoria, próximo das férias ou logo no início do período letivo, com os temas que serão cobrados na prova e algumas referências de estudo, como nomes de livros ou até mesmo capítulos (para aqueles professores mais parceiros).
Uma grande dica é: pergunte aos atuais monitores como foi a prova deles, o que caiu e qual a forma que a disciplina foi cobrada.
Os professores geralmente se apoiam em um determinado estilo de prova único dele, que ele desenvolveu ao passar do tempo, então é interessante saber qual é esse estilo.
- E como funcionam as monitorias?
Também depende da faculdade e da disciplina. As matérias do ciclo básico costumam ter monitorias mais teóricas, com a necessidade do aluno dar aulas para seus calouros, em horários fora da disciplina.
Já as matérias do ciclo clínico são mais práticas, com atividades nos hospitais e centros cirúrgicos. Geralmente, os monitores ajudam os outros estudantes e atendem pacientes.
Em algumas Universidades, principalmente as federais, as monitorias podem receber bolsas, que variam de 200 a 360 reais por mês, para os alunos que forem aprovados nas monitorias nas primeiras colocações.
Portanto, quem se dedica para passar na monitoria, além de melhorar o currículo e aprender mais a fundo sobre a disciplina, ganha uma graninha extra.
IMPORTANTE! A participação em monitorias é a grande possibilidade de você se aproximar dos professores da disciplina que você se interessa mais, acompanhar a prática médica mais de perto e abre portas para outras oportunidades, como iniciações científicas, publicações e estágios.
- LIGAS ACADÊMICAS
A mais conhecida das atividades extracurriculares é a Liga Acadêmica, uma reunião científica que alunos discutem sobre uma determinada especialidade médica.
Em Universidades maiores, com Hospital Universitário próprio, as Ligas Acadêmicas oferecem estágios práticos, muitas vezes reconhecidos pelos próprios hospitais ou Instituições, como Prefeituras, como estágios extracurriculares.
Um exemplo disso é o estágio da Liga Acadêmica do Trauma e Emergência – LATE da Universidade Federal de Juiz de Fora, realizado no SAMU (Suprema e Unipac, outras duas faculdades de Medicina de Juiz de Fora, também possuem esse estágio).
Já na UFMG, em Belo Horizonte, o estágio da LATE é no serviço de cirurgia do trauma no Hospital João XXIII, realizando suturas e atendimento de emergência.
É tradição uma realização de um evento científico (congresso, simpósio ou aulão) após 1 ano da nova gestão da liga, para consolidar um novo ciclo e servir de base de conteúdo para os novos ligantes realizarem a prova de seleção, que segue princípios semelhantes às monitorias, porém, muitas vezes são montadas pelos alunos diretores das Ligas Acadêmicas.
IMPORTANTE! O tempo mínimo que as residências exigem para as Ligas Acadêmicas contarem ponto no processo de entrada atualmente é de 6 meses, mas já foi de 1 ano, com uma mudança recente. Portanto, a dica é: fique 1 ano para garantir! Outra dica é, organize o evento científico. Ser parte da comissão organizadora do evento científico também conta ponto.
- INICIAÇÃO CIENTÍFICA
É uma oportunidade mais comum em Universidades Federais, que investem mais em pesquisas, principalmente devido aos programas de Mestrado e Doutorado, que eram financiados com bolsas de estudo de Fundações, como a CAPES.
Alguns alunos, melhores classificados nas provas montadas pelos professores orientadores, também recebem bolsas, que variam de 360 a 480 reais por mês.
Atualmente, com a diminuição das bolsas, o investimento tende a diminuir, porém os alunos ainda contam com as bolsas financiadas pelas próprias Universidades, em apoio à pesquisa.
As iniciações científicas devem ter suas pesquisas cadastradas na Plataforma Brasil e aprovadas pelo Comitê de Ética e Justiça da Universidade, composto por professores de diversos cursos, que julgam se não existem aspectos antiéticos na pesquisa, como pesquisa com humanos.
Todos os dados a serem pesquisados e resultados das pesquisas devem estar de acordo com o Comitê.
Ao final do período de iniciação científica, os alunos devem apresentar os resultados sob a forma de artigo científico inédito, que deve ser publicado em revista científica ou apresentado em evento científico, como um congresso da especialidade.
- PUBLICAÇÃO DE ARTIGOS E LIVROS
A publicação é uma oportunidade que poucos têm, por ser extremamente complexa e pela falta de interesse por parte do aluno nos primeiros períodos da faculdade, que começam a procurar um tema e um professor para publicar um livro ou artigo científico apenas nos últimos anos da faculdade.
Os estudos são demorados e o processo de aprovação da publicação pode levar de 1 a 3 anos.
Portanto, o período ideal para o início de uma pesquisa científica é no meio da faculdade, para o aluno ter tempo para realizar o estudo científico, analisar os resultados e submeter para publicação, além de aguardar a publicação depois de alguns meses a anos.
IMPORTANTE! A publicação científica só conta ponto no processo de entrada da residência após publicada em revista indexada. Então, cuidado com o tempo, já que deve ser publicada antes de você tentar a prova de residência e cuidado também com a revista que você vai submeter, porque ela deve ser indexada para contar ponto.
- PROJETOS DE EXTENSÃO
Projeto de extensão é uma forma da Universidade retornar à comunidade o investimento em educação, pesquisa e inovação. É uma forma de trabalho voluntário, onde os alunos do projeto atuam localmente nas comunidades, em diversas áreas.
Geralmente, os alunos participantes dos projetos de extensão recebem certificados, que contam ponto para o processo de entrada na residência e em alguns casos, bolsas semelhantes às das monitorias.
Existem projetos de extensão muito impactantes, como o Hospital de Ursinhos, da IFMSA, que alunos de Medicina e enfermagem montam um hospital de brinquedos dentro de creches e escolas, e trabalham com crianças para que elas percam o medo do médico e os procedimentos de saúde, além de promoverem a saúde através do ensino sobre bons hábitos, alimentação e higiene pessoal.
- PARTICIPAÇÃO EM EVENTOS CIENTÍFICOS
São nos eventos científicos que a comunidade médica se atualiza sobre as principais novidades em suas áreas, com a apresentação de trabalhos científicos e palestras com referências em cada área, sobre temas diversos.
Além de organizar eventos científicos, o aluno de Medicina pode participar apresentando um estudo ou um tema, como palestrante (um pouco mais difícil em grandes eventos, mas não impossível) ou como apresentador de trabalho em forma de pôster ou apresentação oral, demonstrando os resultados de suas pesquisas ou estudos para os demais ouvintes do evento.
Em diversos Congressos, existem premiações para os melhores trabalhos apresentados, e o certificado de apresentador também conta pontos para o processo de entrada na residência médica.
- IDIOMAS
Também importante no processo de entrada na residência médica, o aprendizado de novos idiomas também é muito importante para o crescimento pessoal e profissional do estudante de medicina.
A grande maioria da produção científica mundial é feita atualmente em inglês e espanhol, com um aumento grande das produções em alemão e italiano.
As Universidades Federais oferecem cursos de idiomas gratuitos presenciais e à distância, através do programa Idiomas Sem Fronteiras, com certificação aceita na grande maioria das Universidades estrangeiras.
- CURSOS DE ESPECIALIZAÇÃO TÉCNICA
Cursos como o ACLS, ATLS, NALS, PALS e PHTLS são os maiores pontuadores no processo de entrada na residência médica e muitas vezes obrigatórios em alguns trabalhos.
Um ponto em comum entre esses cursos é que devem ser certificados e reconhecidos por Instituições Nacionais e Internacionais de suas especialidades, como a American Heart Association e Sociedades Médicas, como a Sociedade Brasileira de Pediatria – SBP, em cursos como o NALS e PALS. Mas afinal, o que significam essas siglas?
- ACLS: Suporte Avançado de Vida Cardiovascular
- ATLS: Suporte Avançado de Vida no Trauma
- PHTLS: Suporte de Vida no Atendimento Pré-Hospitalar
- PALS: Suporte Avançado de Pediatria
- NALS: Suporte Avançado de Neonatologia
Geralmente, esses cursos têm validade de 1 a 2 anos, com necessidade de reavaliação, já que os protocolos e tratamentos variam com o passar do tempo.
Para trabalhar no SAMU ou outra ambulância, por exemplo, o médico precisa ter realizado o ATLS e o PHTLS, que são cursos de especialização em trauma.
Se tiver realizado também o ACLS, quase obrigatório atualmente para todos médicos recém formados, a chance de garantir sua vaga aumenta muito, pela sua experiência, certificação e conhecimento, ajudando na hora da prova de seleção.
Tais cursos têm a duração média de um final de semana, ou alguns dias, e custam em média de R$ 1.000,00 a $2.500,00 para a realização do curso, material de estudos e emissão da carteirinha ou certificado de aprovação.
Mas lembre-se, a validade do curso é de 2 anos em sua grande maioria.
- INTERCÂMBIOS
Para finalizar o conjunto de oportunidades que os alunos de Medicina têm durante sua formação acadêmica, estão os intercâmbios, oferecidos por empresas privadas ou pela própria Universidade.
Algumas Instituições formadas pelos alunos também oferecem oportunidades de intercâmbios bilaterais, quando o aluno viaja para o exterior, para ter oportunidades médicas-acadêmicas em hospitais estrangeiros, e recebem alunos de outros países, por cerca de 1 mês, como no caso dos intercâmbios da CLEV e IFMSA.
Intercâmbios são grandes oportunidades de aprendizado para os alunos de medicina, que ainda têm a mentoria de professores médicos e não possuem a responsabilidade profissional de um médico.
Ou seja, um ótimo local de aprendizado prático, sem contar com a experiência da língua e cultura de outros países, além da certificação de uma Universidade estrangeira.