Quem daqui nunca se viu com vontade tirar aquele cochilinho à tarde, muitas vezes com aquele soninho logo após o almoço, tão bem conhecido como sesta (tradição em alguns países europeus, e também em muitas cidades brasileiras). Será que esse período de soneca pode ser benéfico à nossa saúde? Se sim, como? É sobre esse assunto e com essas respostas que esse artigo vem à tona!
É muito comum sentirmos aquele soninho logo após uma refeição completa, mais comumente, no almoço. E por que isso acontece? Bom, quando terminamos de nos alimentar, o fluxo sanguíneo é direcionado para região abdominal, onde ocorre maior parte da nossa digestão, facilitando a circulação neste local. Com isso, o fluxo sanguíneo cerebral sofre uma discreta queda, com menor disposição de oxigênio. Além disso, a produção de suco gástrico gera uma grande quantidade de bicarbonato de sódio. Isso provoca o que chamamos de “maré alcalina” pós prandial (nada mais é do que uma alcalose metabólica), o que também culmina na redução da atividade cerebral, provocando o sono.
Vamos falar da soneca da tarde, aquela pós almoço
Alguns estudos vêm demonstrando que tirar aquela soneca após o almoço pode ser benéfico à saúde, contribuindo para a prevenção de infartos, melhorando a memória e o raciocínio e reduzindo os níveis pressóricos arteriais. Tal estudo (um dos mais famosos no assunto) foi desenvolvido no Hospital Universitário de Lausanne, Suíça.
O estudo se baseou em acompanhar 3400 voluntários, com idade variando de 35 a 75 anos, através da checagem de prontuários e avaliando os hábitos de sono desses indivíduos. Após análise observacional desses dados, durante um período de cinco anos, aventou-se a hipótese de haver relação na diminuição do risco de eventos cardiovasculares naqueles pacientes que tinham como hábito cochilar, no mínimo, uma a duas vezes por semana no período da tarde.
Outro estudo, este desenvolvido na Universidade Johns Hopkins, Estados Unidos (publicado no Journal of the American Geriatrics Society) afirma que há um melhor resultado de memória e raciocínio nos idosos que praticam a soneca da tarde. Como foi feito o trabalho? Aproximadamente 2900 pacientes chineses idosos (com mais de 65 anos) foram submetidos a alguns testes como resolver equações matemáticas, memorizar sequências de palavras e responder algumas perguntas. Os que dormiam por volta de 30 minutos por dia no período da tarde apresentaram melhor resultado do que os que não o faziam.
Obviamente os dois estudos citados são estudos apenas observacionais, fornecendo a possibilidade de criação de hipóteses, porém necessitando de estudos mais elaborados para que possamos chegar a uma conclusão mais sólida.
A sesta realmente pode diminuir os níveis pressóricos?
Um trabalho apresentando na 68ª Sessão Científica Anual do Colégio Americano de Cardiologia indicou que o sono após o almoço poderia contribuir com a redução da pressão arterial. Esse estudo foi realizado em pacientes com nível pressórico praticamente normal (estudos em hipertensos já haviam sido realizados), demonstrando a possibilidade de ser mais um fator protetor para o desenvolvimento da hipertensão arterial.
Foi feita a análise de 212 pessoas, que tinha como pressão sistólica, em média, de 129,9 mmHg, com idade média de 62 anos, com 25% sendo tabagista e/ou diabético. Sendo assim, foram divididos em um grupo que faria a sesta e outro que não faria. Foi utilizado um aparelho parecido com o do MAPA (monitorização ambulatorial da pressão arterial) para que se pudesse avaliar os níveis pressóricos desses indivíduos durante mais períodos do dia. No final da pesquisa, foi constatado que a pressão sistólica dos pacientes que tiraram o cochilo era 5 mmHg menor do que os que não praticaram o hábito. Também foi relatado que a cada 60 minutos de sono, a pressão caía 3 mmHg.
Vale a pena reforçar que trata-se de outro estudo observacional, necessitando de mais investigações para conclusões mais confiáveis.
Qual o tempo necessário de soneca para obter os benefícios?
Especialistas afirma que a partir de 15 minutos dormindo o corpo já consegue obter algumas vantagens do sono.
Como sabemos, o sono é dividido em fases e estágios: 1, 2, 3 e REM (rapid eye movement). Um ciclo inteiro dura aproximadamente 1 hora e meia, repetindo-se 4 a 5 vezes por noite. Sendo assim, as recomendações é que o cochilo dure, no mínimo, 15 minutos, podendo se estender até duas horas (final de um ciclo inteiro). Períodos maiores que esses podem não ser tão benéficos para a continuação do dia, além de poder prejudicar o sono da noite, obrigando uma higiene do sono posteriormente.
Além disso, a maioria dos especialistas costuma recomendar esse tipo de soninho à tarde para populações específicas, aqueles que não conseguem um tempo mínimo de sono adequado durante a noite ou que trabalhem em atividades noturnas, quando o sono pode ser interrompido a todo momento.
Existem recomendações específicas para tirar o cochilo?
O ideal é que se esteja em um lugar com silêncio e clima adequado; com ambiente mais escuro; com duração mínima de 15 a 20 minutos; logo após o almoço (idealmente entre 13 e 15 horas, para não atrapalhar o sono noturno). Se essas condições não forem tão fáceis, acessórios como cadeiras reclináveis, protetores auriculares, máscara de dormir, entre outros, podem ser necessários.
Sendo assim, já seria uma boa recomendação para o seu paciente de consultório: tirar um cochilinho de 15 a 120 minutos após o almoço, a fim de melhorar a memória e raciocínio, diminuir os riscos de infarto, acidente vascular cerebral e controlar melhor a pressão arterial. Mesmo ainda precisando de mais estudos, mal não vai fazer, não é mesmo?