Muito se fala da importância da adesão ao tratamento proposto pelo médico ou outro profissional de saúde ao seu paciente. De fato, podemos ter o maior conhecimento científico possível, gastar horas de consultas, prescrever os melhores medicamentos, porém, se o paciente decidir (por conta própria ou não) por não aderir ao tratamento proposto, todo o plano terapêutico virá por água a baixo. Não é a toa que sempre temos como principal causa de descompensação de doenças crônicas a má adesão ao tratamento.
Além disso, em alguns contextos a falha de adesão pode chegar a 50%. Isso tem impacto direto nos níveis de morbidade e mortalidade, além do aumento nos custos relacionados à saúde.
E o que podemos considerar adesão ao tratamento?
Bem, esta é definida como o uso dos medicamentos prescritos ou outros comportamentos/procedimentos em pelo menos 80% do seu total, abrangendo doses, horários corretos e tempo de tratamento. Portanto, é o quanto o comportamento do indivíduo, as mudanças de estilo de vida, as tomadas de medicações coincidem com o que foi prescrito pela equipe de saúde assistente.
São dificuldades existentes para a má adesão: conhecimento (ou a falta dele), motivação, o comportamento e atitudes do próprio paciente sobre o problema a ser enfrentado.
A não adesão pode ser intencional, ou seja, o próprio paciente decide por não seguir o que lhe foi prescrito/aconselhado ou não intencional, aquela na qual, apesar do desejo do paciente de seguir o que foi recomendado, possui limitações para isso.
Como podemos tentar identificar aquele paciente não aderente?
Primeiramente, devemos fazer uma avaliação periódica sobre as doses de medicações que estão sendo utilizadas (ou não sendo), explicar o porquê desta pergunta, delimitar quantas dosagens deixaram de ser feitas em um determinado tempo (por exemplo, nos últimos 5 dias).
Logo após, devemos tentar localizar onde se encontra a dificuldade para a adesão:
- Conhecimento: se há falta de habilidade para leitura da receita, se há conhecimento sobre o motivo do uso de determinada medicação, se sabe as consequências do não tratamento da doença em questão.
- Motivação: deve ser realizada um entrevista motivacional.
- Suporte social: averiguar rede familiar do indivíduo, laços de amizade, recursos financeiros e materiais.
Alguns exemplos de fatores envolvidos com a má adesão ao tratamento são: sexo (homens tendem a aderir menos do que mulheres), idade, déficit cognitivo, excesso de ocupação, abuso de substâncias (álcool e drogas), negação da doença, ausência de sintomas, cronicidade da doença, efeitos colaterais, grande número de tomadas diárias, polifarmácia, custos, entre diversos outros motivos.
Há algo que eu possa tentar fazer para melhorar a adesão do meu paciente?
Após identificar o(s) motivo(s) para a dificuldade do seguimento correto do tratamento proposto, pode-se tentar algumas intervenções a fim de atingir a adesão ao tratamento:
– envolver o paciente na tomada de decisão;
– escutar o paciente (atentar para linguagem não verbal);
– perguntar ao paciente o que o mesmo sabe e acredita sobre o tratamento proposto;
– explicar claramente os prós e contras da terapêutica, esclarecendo a perspectiva do objetivo e se colocando à disposição para sanar qualquer dúvida eventual.
Com relação às medicações:
– deve-se tentar sempre simplificar o esquema terapêutico (menor dose possível, poucos comprimidos, simplificação dos horários);
– adequar a prescrição ao estilo de vida do paciente;
– orientar sobre os possíveis efeitos colaterais e como atenuá-los ou superá-los;
– avaliar o custo da prescrição e se é plausível para a realidade financeira do paciente;
Avaliando o paciente individualmente:
– conhecer crenças e expectativas do paciente e adequar o tratamentos às mesmas;
– avaliar e minimizar incapacidades (déficit visual, locomoção, cognitivo);
– buscar suporte familiar e social;
– utilizar lembretes (telefone, cartões);
As redes de acesso devem estar entrosadas:
– aumentar a disponibilidade de medicações: farmácia popular, redes públicas, doses adequadas;
– disponibilidade para a resolução de dúvidas;
– utilizar abordagem em grupos (reunião com pacientes nas mesmas situações).
Resumindo, para conseguir atingir uma boa adesão do seu paciente podemos utilizar o método SIMPLE na nossa consulta médica:
S – simplificar o regime terapêutico;
I – intensificar a oferta dos seus conhecimentos sobre a condição do paciente;
M – modificar crenças e mitos;
P – promover a melhoria da comunicação com pacientes e familiares;
L – levar em consideração questões demográficas;
E – evoluir a aderência.
Agora, mãos à obra!