Desde o 1º período da faculdade de Medicina, você se depara o laboratório de microscopia, onde todos os tecidos do nosso organismo são observados no microscópio, sendo possível observar as células e como o tecido é estruturado. E essa estrutura muda em cada tecido do nosso organismo, muda com o local em que o mesmo está, muda com a função, ou seja, diversas são as condições que influenciam os tecidos. Com o tecido muscular não é diferente.
Se você já viu o tecido muscular em microscopia óptica, você percebeu que nem todos os tecidos musculares são iguais. “Mas como assim?”. Em nosso organismo, temos diferentes tipos de tecido muscular, por exemplo, o músculo bíceps braquial é um tecido muscular estriado esquelético. Já o músculo presente no trato gastrointestinal, como por exemplo no intestino delgado, é um músculo liso. E ainda, temos uma grande porcentagem de musculatura no coração, mas esse músculo cardíaco é diferente dos dois citados acima, o músculo do coração é um tecido muscular estriado cardíaco.
E você pode pensar que isso não faz sentido, pois “músculo é músculo”, mas vamos ver que há diferenças dentro do próprio tecido muscular, e essas diferenças são essenciais para que as funções de tais tecidos sejam cumpridas.
Para que serve o tecido muscular?
O tecido muscular basicamente é o tecido que forma todos os músculos do nosso corpo/organismo e que nos garante as mais diversas ações fundamentais.
Suas diversas funções ocorrem por duas ações interligadas: contração e relaxamento.
Por exemplo, a locomoção. Só conseguimos andar, correr, e etc, porque temos músculos que ao se contraírem, realizam tais movimentos. Outro exemplo muito envolvido em nosso cotidiano é a mastigação. Isso mesmo, não mastigamos apenas com os dentes. O movimento da mandíbula, que permite a mastigação, se dá graças a ação de um conjunto muscular. A digestão é dependente de músculos também, pois a peristalse (movimento de contração em ondas progressivas, de cima para baixo) é por ação de feixes musculares. Até a nossa fala depende da ação de músculos. O coração, ao “bater”, precisa de ação muscular, pois são os músculos que se contraem e bombeiam o sangue.
Acho que você já percebeu a importância do tecido muscular em nosso organismo, certo?!! E tenha certeza, essas ações que citei não são nem 1/3 de tudo que é dependente da ação de músculos em nosso organismo.
Como eu já disse, há diferentes tipos musculares, e inclusive essas ações que citei são de diferentes tipos também.
Tipos de tecido muscular
Em nosso organismo, temos três tipos musculares: músculo estriado esquelético, músculo estriado cardíaco e músculo liso. Cada um com sua especialidade.
O músculo estriado esquelético realiza contração rápida e vigorosa, é voluntário, ou seja, sua ação depende da nossa vontade. Isso quer dizer que ele só “age” se você quiser. Sendo assim, sua ação é descontínua. Andar é uma ação voluntária, realizada pelo músculo estriado esquelético. Outra ação que já foi citada, e que é desse tipo muscular, é a mastigação. Você mastiga porque você quer. Pegar um peso, ou carregar qualquer objeto, envolve ação muscular estriada esquelética. Quando você malha, você trabalha também essa musculatura, a fim de hipertrofiá-la.
Temos também o músculo estriado cardíaco, que é um músculo especializado, presente apenas no coração. Sua ação de contração é rápida, rítmica e contínua. Ele não para. Toda a musculatura cardíaca é músculo estriado cardíaco. E, apesar de ser músculo estriado, é involuntário. Já imaginou se você coordenasse conscientemente a atividade cardíaca, alguns segundos de distração trariam grandes problemas hahaha, impossível. Da mesma forma, você não consegue ordenar mentalmente que seu coração pare de bater. Esse tecido, com algumas peculiaridades, é que permite ao coração, mediante estímulo elétrico, realizar sua função de bombear o sangue para nutrir os tecidos. E já vamos ver tais peculiaridades.
O outro tipo muscular é o tecido muscular liso. É um músculo involuntário. Está presente principalmente na parede de órgãos, como útero, bexiga, trato gastrointestinal, vasos sanguíneos, bronquíolos, entre outros. Assim como o anterior, ser involuntário é uma característica funcional muito importante, pois, como seria se você tivesse que coordenar a atividade intestinal, atividade dos vasos sanguíneos? Certamente sairia do controle!
Histologia do tecido muscular
Antes de falar da histologia de cada tipo de tecido muscular, vamos relembrar os nomes específicos que estruturas das células musculares recebem.
A membrana plasmática da célula muscular é chamada de sarcolema. O citoplasma é o sarcoplasma. E o retículo endoplasmático liso é conhecido como retículo sarcoplasmático. É bom habituar-se com esses nomes, para não se confundir, ou até mesmo não entender.
Então, agora que relembramos esses conceitos básicos, vamos à estrutura do músculo esquelético.
Músculo Estriado Esquelético
Primeira coisa, meio que óbvia, que você precisa saber: esse músculo contém estriações transversais, por isso recebe o “estriado” em seu nome. Essas estrias são formadas, pois há uma alternância entre faixas claras e escuras. As células que formam o músculo estriado esquelético são células cilíndricas, muito longas, podendo alcançar até 30 cm de comprimento, contém vários núcleos (multinucleadas) que se localizam próximos ao sarcolema, ou seja, na periferia da célula. Essas células longas e multinucleadas se unem em feixes, e esses feixes formam os músculos. O tecido muscular esquelético contém também muitos filamentos, as miofibrilas, essenciais para o processo de contração. Quando realizamos exercício físico, o que ocorre é a formação de novas miofibrilas, que, então, levam ao aumento do diâmetro das fibras musculares, e, com esse aumento de volume celular, temos o conhecido processo da hipertrofia, aumentando a musculatura.
E quem une esses vários feixes musculares? Os feixes contendo as fibras musculares são envolvidos por tecido conjuntivo. Assim como em outros tecidos, temos algumas camadas de revestimento.
Cada fibra muscular é revestida por uma camada de tecido conjuntivo, que é o endomísio. Como eu já disse, essas fibras se unem e formam feixes musculares, e quem reveste esses feixes é o perimísio. E por fim, a camada de revestimento mais externa, é o epimísio, que recobre todo o músculo, unindo todos os feixes que formam determinado músculo, por exemplo, recobre todo o músculo esternocleidomastoideo (ECOM). E lembrando que além de revestir, o tecido conjuntivo é de suma importância, até mesmo para vascularização e inervação do tecido muscular, pois os vasos (arteriais, venosos e linfáticos) e os nervos chegam por meio dele.
Músculo Estriado Cardíaco
O músculo estriado cardíaco também possui estriações transversais. Suas células são longas e ramificadas, apresentam um ou dois núcleos, que se localizam na região central dessas células. Grave isso, pois é uma forma de diferenciar o músculo estriado esquelético do músculo estriado cardíaco: pela localização do núcleo.
Uma característica exclusiva do músculo cardíaco, que pode ser observada na microscopia e está intimamente relacionada à função do músculo, é a presença de discos intercalares, que são conexões juncionais presentes no músculo, que unem as células musculares aumentando a adesão entre elas. Esses discos, aparecem como linhas retas ou em forma de escada, bem coradas. São de suma importância para a que a transmissão do potencial de ação e a consequente contração ocorram de forma sincronizada em todo o músculo, para que, assim, a contração seja efetiva para a atividade cardíaca.
Músculo Liso
E quanto ao músculo liso? O que podemos ver na microscopia óptica?
O músculo liso, ao contrário dos anteriores, não apresenta as estriações transversais. Possui um único núcleo, localizado no centro da célula, célula essa que é longa, e espessa, afilando-se em suas extremidades.
Esse tecido muscular, em algumas ocasiões sofre hiperplasia (aumentando o número de células/fibras musculares) e hipertrofia (aumento do volume das células). Uma dessas ocasiões é no período gestacional, onde o útero aumenta seu tamanho e, com isso, o miométrio (camada muscular uterina) sofre esse aumento também, pelos processos de hiperplasia e hipertrofia.
E assim encerramos o artigo, lembrando que falamos hoje de características visíveis ao microscópio óptico. Ultraestruturalmente, essas células apresentam muitas outras características.
Bom estudo, não se esqueça de usar um atlas de histologia e, sempre que possível, vá ao laboratório de microscopia se divertir com as lâminas da histologia!!
Assista também a nossa videoaula sobre origem e estrutura básica dos tecidos: http://bit.ly/2koPd6M