Você tem dificuldade de entender os parâmetros do ecocardiograma? Afinal o que é aquela fração de ejeção, pré carga, por carga? Para que possamos entender as principais patologias cardíacas, é importante entender conceitos fundamentais de fisiologia cardiovascular. Hoje vamos abordar os principais conceitos envolvendo a dinâmica cardíaca: a função sistólica e a função diastólica.
Mas o que é diástole e o que é sístole?
A diástole consiste na fase de enchimento ventricular, já a sístole, a fase de ejeção. Para que nosso coração desempenhe sua função adequadamente é necessário que esses mecanismos estejam em pleno funcionamento.
Função diastólica:
A função diastólica é a capacidade do ventrículo de se encher de sangue proveniente das grandes veias sem aumento significativo de sua pressão intracavitária, determinada pelo grau de relaxamento ventricular. Em um coração normal, a pressão diastólica final (PD2), ou seja, a pressão de enchimento ventricular varia entre 8-12 mmHg. Com isso, a complacência (flexibilidade e distensibilidade) da parede muscular cardíaca é quem determina a PD2. Como a medida de pressão depende de procedimentos invasivos, na prática clínica estima-se a função diastólica através da velocidade de fluxo através da valva mitral pelo Ecocardiograma com Doppler. Nesse exame podemos identificar uma função normal quando a velocidade do fluxo de enchimento ventricular é maior no início da diástole cardíaca, na fase de enchimento rápido, do que no momento final, em que ocorre a sístole atrial. O enchimento rápido se dá através de um processo passivo graças ao gradiente pressórico, com a qual, no período que antecede a diástole, o átrio cheio de sangue, possui uma pressão em sua câmara maior do que a do ventrículo. Processos que interferem a complacência cardíaca, como a hipertrofia ventricular, processos infiltrativos, deixam o coração mais “duro” e com isso há um aumento na pressão câmara cardíaca ventricular, diminuindo o gradiente pressórico, e portanto diminuindo a velocidade de fluxo do átrio para o ventrículo. Com isso há uma inversão desse padrão descrito anteriormente, tornando o ventrículo mais dependente da sístole atrial (contração atrial), que do que o enchimento rápido, indicando uma disfunção diastólica. É importante ressaltar que esse se constitui apenas um mecanismo fisiopatológico, havendo ainda diversas formas de se desenvolver uma disfunção diastólica.
Função Diastólica Normal | Disfunção Diastólica | ||||
Velocidade de fluxo na valva mitral (AàV) | Velocidade de fluxo na valva mitral (AàV) | ||||
Enchimento rápido (onda E) | > | Sístole atrial (onda A) | Enchimento rápido (onda E) | < | Sístole atrial (onda A) |
Legenda: A = átrio; V = ventrículo
Função sistólica:
A função sistólica consiste na capacidade do ventrículo de ejetar o sangue nas grandes artérias, a aorta e a artéria pulmonar. Ao final da diástole os ventrículos possuem cerca de 80 a 150 ml de sangue, esse valor denomina-se Volume Diastólico Final (VDF), também conhecida como pré-carga cardíaca. Quando o coração realiza a sístole ventricular, são ejetados a cada batimento cerca de 40 a 100 ml de sangue, a esse volume, damos o nome de Débito Sistólico (DS). Perceba que nem todo valor que nossos ventrículos possuíam, foi ejetado, logo há uma quantidade de sangue que resta ao final da ejeção, chamamos de Volume Sistólico Final (VSF) que varia cerca de 30 a 60 ml.
O Débito Cardíaco (DC) é o fluxo total de sangue gerado em um determinado intervalo de tempo. Seu valor é obtido através da multiplicação do DS pela Frequência Cardíaca (FC). Seu valor costuma variar entre 4,5 e 6,5 L/min, ou seja, em um minuto o coração consegue ejetar cerca de 5,5 litros de sangue.
DC = DS x FC
Outro conceito, é o Índice Cardíaco (IC), que se trata do débito cardíaco corrigido pela área de superfície corporal, normalmente de 2,8-4,2 L/min/m2, uma medida mais precisa da função cardíaca.
Uma medida importante para avaliar a função sistólica é a Fração de Ejeção (FE) que corresponde à porcentagem do volume diastólico final que é ejetado, ou seja, o quanto ejetamos (DS), dividido pelo total que havia no coração (VDF) antes da ejeção, que tem como valor normal de 50 a 70%.
FE = DS / VDF
A fração de ejeção é um conceito primordial na prática clínica na avaliação dos tipos de insuficiência cardíaca, a IC sistólica cursa com sua medida reduzida, indicando disfunção sistólica quando FE <50%.
O conceito de pós-carga cardíaca se dá pela dificuldade da realização do esvaziamento ventricular, sendo assim a tensão na parede muscular cardíaca durante a sístole. Tem relação inversa com a função sistólica, pois quanto maior for a sua pós-carga, maior a dificuldade de ejetar o sangue, logo ao final da sístole teremos um menor volume ejetado.
Com isso fechamos os principais conceitos envolvidos na função cardíaca, a partir deles é possível compreender melhor os processos fisiopatológicos, bem como base para interpretação de exames importantes na prática clínica como o ecocardiograma!
Boa noite, preciso de um esclarecimento sei se possível. Como o poderei contactar particularmente?
Obrigado
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