O que são bactérias multirresistentes?
Há quem diga que as bactérias multirresistentes daqui há alguns anos, serão as principais responsáveis por causarem infecções nos seres humanos. Mas o que seria esse termo multirresistente? Esse termo é designado aquelas bactérias que resistem à pelo menos 1 antimicrobiano de 3 classes diferentes.
Estudos mostraram que pelo menos 2 milhões de pessoas adoecem com bactérias multirresistentes, e desses 2 milhões, 23 mil acabam morrendo dessas infecções, sendo a maioria delas adquiridas nos hospitais. Nos hospitais a ocorrência de resistência é maior pois há um desafio grande em abordá-las, devido a quantidade de pessoas doentes, a maioria delas tomando antibióticos. Sendo assim, as bactérias para sobreviverem nesse ambiente devem ser muito boas em seu mecanismo de resistência, o que transforma tudo isso em um grande desafio.
Como a resistência acontece?
A resistência bacteriana é uma evolução dessas bactérias, ocorre uma seleção artificial delas devido ao uso dos antimicrobianos. Os seres humanos vão, inevitavelmente, achar uma maneira de selecionar as bactérias que já são previamente resistentes, e é este o principal mecanismo que contribui para o aumento do número de cepas resistentes.
Com o avanço da medicina no Brasil e no mundo, assim como a abertura de milhares de escolas médicas, o nível de aprendizado dos profissionais de saúde caiu significativamente, pelo chamado mercantilização da medicina. Com isso, relativizou-se o uso de antimicrobianos no tratamento de infecções. Quem nunca ouviu o ditado “Não sabe? Não viu? Benzetacil!”?! Qualquer infecção que se suspeite, logo é indicado o tratamento com antibióticos, aumentando inúmeras vezes o risco dessa próxima infecção que o paciente vier a apresentar, ser por uma bactéria multirresistente.
O tratamento empírico por sua vez possui riscos, como contribuir para a seleção de bactérias resistentes, e é esse tratamento empírico que é o principal aliado da luta contra a resistência antimicrobiana, por isso é tão importante a realização de cultura e antibiograma em todos os casos para direcionar o tratamento do nosso paciente, além de evitar os riscos de seleção artificial dessas bactérias resistentes.
Quando suspeitar?
Sabemos então o que é uma bactéria multirresistente, mas como sabemos que aquele paciente que chegou para a gente no plantão pode estar colonizado com uma bactéria dessas? A anamnese é o principal local onde vamos suspeitar.
Se o seu paciente esteve internado recentemente em algum outro hospital, se ele fez uso de algum antibiótico recentemente, algum procedimento invasivo como colocação de sondas ou cateteres e ao examiná-lo sempre procurar lesões e feridas cruentas pelo seu corpo. Porém, apesar da suspeita, a confirmação só se dá com o antibiograma em mãos.
Como proceder?
Quando a suspeita de uma infecção por bactéria multirresistente no seu plantão for confirmada, é imprescindível:
-A notificação à equipe que está com você, assim como o paciente e sua família;
-Deixá-lo em isolamento de contato, para impedir que essas bactérias venham a se espalhar para outros doentes e gerar um surto em seu hospital
-Colher swab retal, exame de fezes ou cultura do foco de infecção para pesquisa das principais bactérias, como KPC.
Como prevenir?
Como, na maioria das vezes, essas bactérias são extremamente patogênicas e letais, sua prevenção e seu controle são fundamentais. A principais forma de prevenção são:
-A realização constante de antibiogramas (teste de susceptibilidade aos antimicrobianos);
-A não realização de tratamento empírico (quando possível);
-A ação do tratamento pelo tempo correto são as principais formas de prevenção.
Podemos também prevenir as infecções com:
-O aumento do número de vezes em que lavamos as mãos;
-O uso de precauções de contato;
-Vigilância sanitária para a busca de pacientes colonizados e para uma avaliação contínua das infecções;
-Otimizar a informação da população quanto à essas bactérias.
Com isso e outras técnicas conseguiremos diminuir o número de bactérias multirresistentes no meio hospitalar e diminuir as causas de morte por infecções. A precaução de contato pode ser por meio da utilização de capotes, luvas, higiene das mãos e isolamento dos doentes.
O que não podemos esquecer?
Devemos SEMPRE ficarmos atentos para as indicações de cultura e o antibiograma dos nossos doentes! E lembrar que nem todas as infecções são tratadas com antibióticos! Portanto, devemos fazer o uso racional desses medicamentos. Perguntas como: preciso utilizar esse antibiótico? O meu paciente vai se beneficiar? Quais são os riscos? Com isso em mente e pensando o risco/benefício da utilização daquele medicamento, eu consigo diminuir e muito o número dessas bactérias multirresistentes.
Feito isso a prevenção é fundamental, como não utilizar antibióticos desnecessários e deixar o paciente em isolamento! Dentro de um hospital as bactérias resistentes se espalham com muita facilidade, e é imprescindível colocarmos os doentes suspeitos (e claro, os confirmados também) em isolamento de contato. Assim, poderemos driblar as expectativas e impedir que essas bactérias multirresistentes se tornem, como relatam as pesquisas internacionais, a principal causa de infecções hospitalares no mundo em 2050!