Hoje vamos conversar um pouco sobre a anatomia de uma articulação importantíssima, a qual é essencial para nos movimentarmos e realizarmos nossas atividades diárias. Vamos falar da articulação do joelho!
A articulação do joelho é uma grande articulação, na verdade, um complexo articular por envolver diferentes articulações. É bastante superficial, sendo facilmente visível, e que realiza importante papel devido à sua mobilidade.
Caracterizando a articulação
É uma articulação sinovial do tipo gínglimo (“dobradiça”).
Primeira coisa que precisamos esclarecer: “você sabe o que é uma articulação sinovial?”. Vamos relembrar… As articulações sinoviais comunicam dois ou mais ossos, sendo uma junção entre esses ossos, e assim possibilita que haja movimento entre eles, e para isso possuem alguns componentes especiais: como a cartilagem articular, a cápsula articular, os ligamentos e o líquido sinovial. A cartilagem articular reveste as extremidades ósseas, sendo principalmente uma forma de proteção. A cápsula articular envolve toda a articulação e possui duas camadas: uma camada externa (membrana fibrosa) e uma camada interna (a membrana sinovial).
Os ligamentos também compõem as articulações, são formados por tecido fibroso e que possuem grande resistência e auxiliam na estabilidade da articulação. E o líquido sinovial que é quem nutre a articulação, pois ela é desprovida de nutrição direta, ou seja, pobre em vasos sanguíneos. Todos esses componentes estão presentes também na articulação do joelho.
Figura 1: Articulação Sinovial
E tipo gínglimo, você sabe o que é? Uma articulação do tipo gínglimo é aquela que literalmente se dobra, pois o movimento realizado por ela é de flexão e extensão. Além desses movimentos, a articulação do joelho realiza pequenos movimentos de rotação, mas esses só podem ser realizados mediante uma flexão mínima, ou seja, se o joelho estiver totalmente estendido esse movimento não pode ser realizado.
Figura 2: Como podemos ver na imagem, a articulação do joelho possui a capacidade de se movimentar como uma dobradiça.
Agora que conhecemos algumas características da articulação do joelho, vamos falar sobre seus componentes.
Quais são os componentes da articulação do joelho?
Figura 3: Radiografia da articulação do joelho. Observe os ossos que se articulam no joelho, superiormente temos o fêmur, inferiormente a tíbia e a patela anteriormente.
As extremidades ósseas são essenciais, sendo elas a extremidade distal do fêmur e a extremidade proximal da tíbia, e a patela. Sendo assim, temos algumas articulações envolvidas: a articulação femorotibial medial, a articulação femorotibial lateral, e a articulação femoropatelar.
Figura 4: Osso fêmur. A epífise distal está envolvida na articulação do joelho.
A extremidade distal do fêmur possui alguns importantes acidentes ósseos que precisamos conhecer para entender o joelho. O fêmur é o osso mais longo do nosso corpo. Sua epífise distal é que está envolvida na articulação femorotibial e femoropatelar. Acidentes anatômicos muito importantes para a articulação femorotibial são os côndilos medial e lateral. Uma outra importante característica, envolvida na articulação femoropatelar, é a face patelar do fêmur, onde a patela se articula.
Figura 5: Acidentes ósseos da epífise distal do fêmur. Podemos ver os côndilos, medial e lateral, separados pela fossa intercondilar. Podemos observar também a face patelar, local onde a patela se articula.
Outro osso envolvido na articulação mais importante do joelho, a articulação femorotibial, é a tíbia. A tíbia também é um grande osso, sendo o segundo maior do corpo, um osso longo e que fica localizado na perna. Sua epífise proximal articula-se com o fêmur. Assim como o fêmur, a tíbia possui um côndilo medial que se articula com o côndilo medial do fêmur e um côndilo lateral que se articula com o côndilo lateral do fêmur. Ao contrário do fêmur que possui uma fossa intercondilar, a tíbia possui uma eminência intercondilar que é formada por dois tubérculos intercondilares, e esses articulam-se na fossa intercondilar do fêmur. Um acidente anatômico também importante é a tuberosidade da tíbia, localizada anteriormente, e que serve como local de fixação do ligamento patelar.
Figura 6: Epífise proximal da tíbia. Observe os côndilos tibiais, medial e lateral, os tubérculos intercondilares, e a tuberosidade da tíbia.
Não podemos nos esquecer da patela, um pequeno osso do tipo sesamoide, e que se encontra localizado anteriormente na articulação joelho, onde forma juntamente ao fêmur a articulação femoropatelar. É uma articulação plana entre o fêmur e a patela. Durante alguns movimentos como a caminhada, ao ocorrer a contração do músculo quadríceps femoral (o tendão desse músculo está ligado à patela), a patela desliza sobre o fêmur, para cima e para baixo – em um movimento craniocaudal, e para os lados – movimentos latero-laterais. Uma barreira anatômica que limita os movimentos latero-laterais é a tróclea lateral, pois ela é mais alta do que a medial, e assim impede que ocorra uma subluxação, ou seja, um deslocamento da patela ao caminhar.
Figura 7: Patela
E a fíbula, osso localizado lateralmente à tíbia? Não participa da articulação? A fíbula, é um osso lateral da perna, e, apesar de articular-se com a tíbia em sua extremidade proximal, formando a articulação tíbio fibular superior que está bem próxima ao joelho, não é considerada uma articulação pertencente ao complexo articular do joelho, visto que ela é imóvel, e assim não participa dos movimentos do joelho.
Ligamentos
Os ligamentos também são componentes essenciais à articulação do joelho, e que auxiliam no fortalecimento e estabilidade da articulação. Temos ligamentos extracapsulares e intra-articulares.
Os ligamentos extracapsulares são ligamentos externos que auxiliam no fortalecimento da cápsula articular, que reveste toda a articulação. Temos 5 ligamentos extracapsulares: ligamento da patela, ligamento colateral fibular, ligamento colateral tibial, ligamento poplíteo oblíquo e ligamento poplíteo arqueado.
O ligamento da patela está localizado anteriormente, e liga a patela à tuberosidade da tíbia. É ele quem auxilia no alinhamento da patela à face patelar (localizada no fêmur). Figura 8: Observe nesta vista lateral do joelho, a patela e inferiormente o ligamento patelar, ligando-se à tuberosidade da tíbia.
Figura 8: Ligamento patelar
O ligamento colateral fibular, também conhecido como ligamento colateral lateral, estende-se do epicôndilo lateral do fêmur até a cabeça da fíbula (lateralmente). É um ligamento forte da parte externa do joelho.
Figura 9: O ligamento colateral fibular, ligamento o fêmur à fíbula.
Já o ligamento colateral tibial, também conhecido como ligamento colateral medial, liga o epicôndilo medial do fêmur ao epicôndilo medial da tíbia. Uma importante característica, principalmente para o entendimento de algumas lesões na articulação do joelho, é que esse ligamento possui uma forte fixação ao menisco medial, que estudaremos adiante. Apesar de ser um ligamento forte, é mais fraco do que o ligamento colateral fibular. Dessa forma, é mais comum ver lesões desse ligamento do que do colateral lateral.
Figura 10: À esquerda podemos ver o ligamento colateral tibial.
Compondo os ligamentos extracapsulares, temos também o ligamento poplíteo oblíquo, localizado posteriormente ao côndilo medial da tíbia, e que se estende supero lateralmente até o côndilo lateral do fêmur.
E por fim, o ligamento poplíteo arqueado, que se origina na região posterior da cabeça da fíbula e segue supero medialmente.
Figura 11: Nesta vista posterior do joelho, podemos visualizar os ligamentos poplíteos oblíquo e arqueado, ambos reforçando a região posterior do joelho.
Vamos falar agora dos ligamentos intra-articulares, que são os ligamentos cruzados e os meniscos. Esses você provavelmente já ouviu falar, visto que são importantes alvos de lesões.
Começando pelos ligamentos cruzados, que como o nome sugere se cruzam, assim como a letra X. São dois: o ligamento cruzado anterior e o ligamento cruzado posterior. Eles possuem importantes funções como estabilizar o joelho e limitar movimentações excessivas.
O ligamento cruzado anterior, origina-se anteriormente na tíbia entre os côndilos, segue um trajeto superior, posterior e lateral, e se fixa posteriormente, na face medial do côndilo lateral do fêmur. Ele limita a rolagem posterior dos côndilos femorais durante a flexão, e limita o deslocamento posterior do fêmur sobre a tíbia. Além disso, é ele quem impede que seja realizada uma hiperextensão do joelho.
Já o ligamento cruzado posterior, origina-se posteriormente na tíbia também na área intercondilar. Segue em sentido superior, anterior, e medial, fixando-se na face lateral do côndilo medial do fêmur. Esse ligamento possui como funções limitar a rolagem e impedir o deslocamento anterior do fêmur sobre a tíbia durante a extensão. Ele evita que ocorra uma hiperflexão do joelho. O ligamento cruzado posterior é o mais forte dos ligamentos cruzados.
Figura 12: Nessa imagem, em vista posterior, podemos ver facilmente o ligamento cruzado posterior, e ao fundo o ligamento cruzado anterior. Relembre também da localização do ligamento colateral fibular e o ligamento colateral tibial, o qual já falamos anteriormente. E os meniscos, medial e lateral.
E os meniscos, o que são? De acordo com o significado da palavra, menisco é um objeto em forma de crescente, de meia-lua. Eles são essenciais na articulação do joelho, especificamente na articulação femorotibial, uma vez que são eles que permitem a “junção” entre fêmur e tíbia, e são responsáveis pela absorção de impactos no joelho, atuando assim como amortecedores. E se você pensar rapidamente nas ações que os joelhos desempenham, vai perceber que a maioria delas são ações de impacto. O próprio caminhar ou correr, tem impacto no joelho, tanto pela movimentação quanto pelo peso de todo o corpo sobre essa articulação. Os meniscos são lâminas, em forma de meia-lua, como dito, e formados por fibrocartilagem. Eles se afilam de fora para dentro, ou seja, são mais espessos em suas margens externas. Temos dois meniscos: o menisco medial e o menisco lateral.
O menisco medial, é mais largo posteriormente. Como já dito, o ligamento colateral tibial possui uma forte fixação nesse menisco. Devido às fixações, esse menisco é menos móvel.
Já o menisco lateral, além de ser menor que o menisco medial, possui também maior mobilidade, o que reduz a incidência de lesões. O menisco lateral possui o ligamento menisco femoral (porção anterior e porção posterior) que o liga ao ligamento cruzado posterior e ao côndilo medial do fêmur. Cada porção desse ligamento recebe um nome especial: a parte posterior do ligamento menisco femoral, é chamada de ligamento de Wrisberg, como você pode ver na imagem acima. Já a parte anterior do ligamento menisco femoral é conhecida como ligamento de Humphrey.
Os meniscos são unidos anteriormente pelo ligamento transverso, que cruza a área intercondilar anterior.
Figura 13: Nesta vista superior, é possível ver os meniscos, sendo o menisco lateral menor, quase circular, e o menisco medial mais aberto. Observe também os ligamentos cruzados, anterior e posterior, seccionados. O ligamento de Wrisberg fixando o menisco lateral ao ligamento cruzado posterior. E anteriormente o ligamento transverso unindo as margens anteriores dos meniscos.
Lesões na articulação do joelho
Agora que já falamos da anatomia, é importante conhecermos algumas lesões importantes que podem acometer essa articulação, principalmente quando se trata de atletas que praticam esportes de contato, como, por exemplo, o futebol.
Um exemplo é a lesão do ligamento colateral tibial por algum golpe lateral no joelho, quando esse está estendido, ou ainda por excessiva torção lateral do joelho fletido, e assim provoca o rompimento do ligamento. Você se lembra que esse ligamento possui uma forte fixação ao menisco medial?
Então, muitas vezes quando o ligamento colateral tibial se rompe, ele provoca o rompimento ou deslocamento do menisco medial. E ainda, após o rompimento do ligamento colateral tibial, o ligamento cruzado anterior também pode se romper devido à tensão durante a flexão. Assim, têm-se três estruturas lesionadas: o ligamento colateral tibial, o menisco medial e o ligamento cruzado anterior. Essa tríade de lesões, é conhecida como “tríade infeliz do joelho”.
Como conversamos também, o ligamento cruzado anterior, dentre os ligamentos cruzados, é o mais fraco, e assim situações de hiperextensão podem levar ao rompimento do ligamento. Ao ser rompido, ocorre o deslizamento anterior da tíbia sob o fêmur, gerando o “sinal da gaveta anterior”.
E, apesar do ligamento cruzado posterior ser forte, lesões também podem acontecer, e o rompimento desse ligamento permite que a tíbia se movimente posteriormente sob o fêmur, gerando o “sinal da gaveta posterior”.
Vimos assim, todas os componentes das articulações do joelho, e algumas lesões que podem acomete-la. Além de todos esses componentes, não devemos nos esquecer que assim como outras partes do corpo, há uma vascularização e inervação presentes nessa articulação, ainda que ela possua também a nutrição pelo líquido sinovial.
A vascularização do joelho se dá por 10 vasos que formam a rede articular do joelho, como os ramos geniculares dos ramos femorais, poplíteo, e os ramos recorrentes anterior e posterior das artérias recorrentes tibiais anterior e circunflexa fibular.
A inervação é realizada pelos nervos que cruzam a articulação, como os nervos femorais (supre face anterior), nervo tibial (supre face posterior) e nervo fibular comum (supre face lateral).
E assim terminamos esse assunto importantíssimo, o qual falamos sobre diversos detalhes importantes dessa articulação.
Bons estudos, pessoal, e até a próxima!
Estou encantada com as ilustrações usadas no seu site.. E usando todas como exemplo para ilustrar o meu caderno! Topissimo!!
Anatomia do joelho é sensacional, não digo aprofundado mas aumentado um pouco mais sobre as lesões ao chegar nessa parte o conteúdo se torna mais interessante.
Obrigado, Francisco! Continue acompanhando as nossas postagens.