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É normal que o ser humano cresça, não é mesmo!?? Nasce um bebê e, ao decorrer dos anos, se desenvolve em diversos aspectos, e ele cresce. Mas o que está por trás disso? O que está por trás de tal crescimento? Assim como muitos eventos que ocorrem em nosso organismo, por trás desse crescimento está um hormônio conhecido como GH: O hormônio do crescimento.
Diferentes concentrações de GH são observadas ao longo da vida, e o pico hormonal, ou seja, a maior concentração se dá na puberdade, pois nesse período há um grande desenvolvimento.
Quem produz o GH é a adeno-hipófise, mas para que essa produção seja realizada, o hipotálamo é quem estimula a hipófise e, assim, controla a produção do GH. Quando o hipotálamo recebe estímulos como:
- Sono de onda lenta (conhecido como Sono N-REM – corresponde a maior parte do sono, e é nesse momento que o organismo descansa e passa por reparos – durante o sono N-REM há aumento da secreção de GH);
- Exercício
- Estresse
- Puberdade
- Estrogênio
- Hipoglicemia
- Dieta rica em proteínas
Todos esses estímulos atuam no hipotálamo, fazendo com que haja produção de GHRH (Hormônio Liberador de GH) pelo hipotálamo. O GHRH é transportado até a adeno-hipófise, por meio de capilares. E, ao chegar atua, nas células somatotróficas da hipófise, que são células especializadas na produção de GH. E, então, essas células fazem a produção de GH. Após produzido, é secretado na corrente sanguínea e vai atuar em diferentes locais do organismo.
Importante lembrar que o GH é um hormônio final, ou seja, ele atua diretamente em muitos tecidos do organismo.
Por que não crescemos por toda a vida?
Como eu disse, as concentrações de GH variam ao longo da vida, e alguns estímulos podem levar à redução da produção de GH. Por exemplo, a idade avançada atua no hipotálamo como um estímulo para produção de somatostatina, e a somatostatina reduz a secreção de GH. Assim, na idade avançada, o indivíduo sofre redução de GH, e, portanto, todos os efeitos do GH, inclusive o crescimento, são reduzidos.
Outro estímulo à produção de somatostatina é a obesidade e a alta ingesta de carboidratos, que levam ao aumento da glicose sérica ou alta concentração de ácidos graxos livres no sangue, e com isso, há estímulo a produção de somatostatina, inibindo a produção de GH.
Quais são as ações do GH?
Diversas.
O crescimento em si, como remete o nome “Hormônio do Crescimento”, é uma das importantes funções do hormônio. Mas não é a única.
Uma ação também importante é o aumento da síntese de proteínas e consequente aumento da deposição proteica em diversos tecidos. Esse aumento da síntese se dá por diversos “caminhos”, como aumento da transcrição de DNA e aumento de tradução do RNA. E, além de aumentar a síntese de proteínas, o hormônio também leva a redução do catabolismo, ou seja, da degradação proteica.
Além de atuar no metabolismo das proteínas, o GH atua no metabolismo de gorduras, aumentando a utilização das mesmas como fonte energética. Ou seja, ele estimula a lipólise. O que o GH faz é liberar os ácidos graxos presentes no tecido adiposo. Os ácidos graxos são convertidos em acetil coenzima-A (Acetil Co-A), e esse é utilizado como fonte energética.
Combinando-se as duas ações citadas acima, percebemos que o GH promove um aumento de massa magra, pois aumenta massa proteica e reduz o tecido adiposo.
Uma vez que aumenta a utilização de ácidos graxos como fonte energética, o GH poupa a utilização de carboidratos para produção de energia. E, além de reduzir a utilização de glicose, também estimula a produção de glicose pelo fígado num processo chamado de gliconeogênese. Com isso, há aumento das concentrações séricas de glicose. O GH aumenta também a secreção de insulina, porém atenua, ou seja, reduz os efeitos da insulina. Isso pode provocar um efeito conhecido como “efeito diabetogênico do GH”, pois há uma alta concentração de insulina, mas que não consegue exercer seu papel, pois o GH gera “resistência insulínica”. E há também uma alta concentração de glicose na circulação sanguínea, pelos motivos já citados anteriormente.
Parece controverso, não é mesmo!? Mas tudo que o hormônio faz tem um sentido, uma razão. Esse ambiente criado, havendo redução dos efeitos insulínicos, ao mesmo tempo que aumenta a glicose, serve para que haja o metabolismo suficiente ao crescimento, pois já fora visto que, na ausência de insulina e de carboidratos, o GH não consegue promover o crescimento.
Até agora, já vimos, então, algumas ações: crescimento, metabolismo de proteínas, catabolismo de tecido adiposo e aumento de insulina e glicose. Mas ainda não acabou.
Outra função do GH é promover crescimento de ossos e cartilagens. Quanto ao crescimento ósseo e cartilaginoso, o GH não atua diretamente. Ele estimula a produção de substâncias pelo fígado, chamadas de somatomedinas, também chamadas de Fator de Crescimento semelhante à Insulina (IGF-I), sendo a mais importante a somatomedina C, e são essas substâncias que atuam. E assim ele cumpre uma de suas funções, que é o crescimento em si, de forma indireta. Como? O IGF-I atua no sistema esquelético, estimulando a produção e deposição de proteínas, tanto pelas células osteogênicas, quanto pelas células condrocíticas. Dessa forma, há aumento da matriz óssea. Além disso, aumenta a reprodução dessas células para que o efeito seja maior. Mas, se há células condrocíticas, há formação de cartilagem. E por qual motivo isso ocorre, se o intuito final é formar osso? O GH tem a capacidade de converter células condrocíticas em células osteogênicas, e assim forma-se o osso. Mas, é claro que esse processo não ocorre de forma desregulada. Há crescimento ósseo tanto em comprimento quanto em espessura. O crescimento ósseo no comprimento ocorre pela formação de cartilagem nas epífises, e então essa cartilagem é substituída por matriz óssea, até que chegue em uma certa fase, depende da idade e fatores hormonais por exemplo, e as epífises se fechem. Quando ocorre o fechamento epifisário, não há mais crescimento ósseo longitudinal. Já o crescimento em espessura ocorre graças ao periósteo. O periósteo é uma camada que reveste externamente os ossos, e nele há diferentes tipos celulares da linhagem osteogênica. Um desses é o osteoblasto, uma célula que realiza deposição de matriz óssea. Os osteoblastos são estimulados pelo GH. Em contrapartida, há os osteoclastos que realizam absorção óssea, em outras palavras, degradam o osso. O aumento da espessura óssea ocorre quando a taxa de deposição pelos osteoblastos, os quais são influenciados por GH, for maior que a taxa de degradação. Simples assim! É assim que o GH cumpre seu papel de crescimento.
Quantas diferentes ações um hormônio pode desempenhar no organismo, não é mesmo… E quão importantes são todas elas ao perfeito funcionamento do organismo. Mas nem sempre tudo funciona corretamente, pois, distúrbios, alterações podem ocorrer. Uma vez que a concentração normal sofre grandes variações, seja por uma redução ou por um aumento, o organismo sofre pelos efeitos de tais alterações. Diante de tudo que foi exposto, é possível deduzir algumas alterações passíveis de ocorrer.
Quando as concentrações de GH ou IGF-I não são suficientes, especialmente na infância e adolescência o indivíduo perde a capacidade de crescer. O que acontece? Ele se torna um adulto com altura muito reduzida em relação aos outros adultos, porém com proporções mantidas. Essa situação ocorre em uma população africana, conhecida como Pigmeus. Eles possuem GH e até mesmo IGF-I durante a infância. Porém, ao entrar na puberdade, onde normalmente há o pico, pois é a fase de maior crescimento, eles não conseguem aumentar a produção de IGF-I, e isso leva-os ao não crescimento.
A falta do hormônio causa alterações, mas seu excesso também provoca distúrbios.
Quando o GH se encontra em excesso no organismo desde a infância, há um quadro conhecido como gigantismo, e o indivíduo, na vida adulta, torna-se um gigante acromegálico. Mas, o que é isso??? Você já viu que o GH é um hormônio de crescimento, que promove, portanto, crescimento de diversos tecidos e órgãos no organismo. Sendo assim, se houver excesso de GH desde a infância, ocorre o gigantismo, que é o aumento exagerado da estatura, e a acromegalia, que é um aumento (“megalia”) dos órgãos.
Já se as concentrações de GH aumentarem na vida adulta, como as epífises já estão fechadas, não há crescimento ósseo longitudinal, mas há crescimento dos órgãos, e isso pode causar danos à saúde, fazendo com que pessoas portadoras de acromegalias tenham menos tempo de vida. Esse quadro é conhecido como acromegalia. Além de alterações nos órgãos, esses indivíduos geralmente apresentam diabetes devido ao efeito diabetogênico do GH. Uma causa importante para esse aumento são tumores benignos hipersecretantes, que acometem a hipófise, os adenomas, e que levam, portanto, ao aumento da secreção de GH.
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Acima fala que “Após produzido, é secretado na corrente sanguínea e vai atuar em diferentes locais do organismo.”, eu queria saber em que locais do organismo seria esses, estou com um ponto de interrogação.
Bem, a resposta para essa pergunta é: quase todos os locais! hehehe Brincandeiras a parte, durante a fase de crescimento praticamente todos os tecidos possuem resposta ao GH.