Os geriatras são médicos especialistas com foco na avaliação e cuidados clínicos no envelhecimento, nos variados ambientes do nosso sistema de saúde. Para obter essa especialidade, um dos meios é através da residência médica; para cursar a residência em geriatria, é necessário o pré-requisito em Clínica Médica, com curso de 2 anos, em local credenciado pela Comissão Nacional de Residência Médica.
A residência de geriatria compreende, pelas regras da CNRM, uma carga horária de 2880 horas – definidas por 60 horas semanais por 2 anos – e 80% do seu tempo é destinado a treinamento prático supervisionado. Já os 20% restantes, a atividades teóricas. Em relação ao ambiente de treinamento, durante os 2 anos de especialização, são realizados atendimentos ambulatoriais sob supervisão, visitas hospitalares, domiciliares e em instituições, discussões clínicas e plantões em Urgência/Emergência; as atividades teóricas devem compreender sessões clínicas, palestras, discussão de artigos científicos, cursos, seminários e outras atividades. Um ponto diferencial na residência de geriatria é a participação da equipe multidisciplinar em todos os estágios, durante os 2 anos; esse ponto da formação é essencial ao dia a dia prático da vida do geriatra, já que a inter e a transdisciplinaridade fazem parte do cotidiano de trabalho de quem lida com o envelhecimento.
O residente do 1º ano (chamado de R1 ou de R3), durante o seu treinamento, deve ser capacitado a compreender o processo de envelhecimento populacional do ponto de vista epidemiológico, histórico e fisiológico, conhecer a Política Nacional da Pessoa Idosa, saber as principais propriedades farmacodinâmicas e farmacocinéticas das drogas em idosos, dominar técnicas de comunicação verbal e não verbal, reconhecer os aspectos sociais, psicológicos e culturais envolvidos na saúde do idoso, compreender as Síndromes Geriátricas e a importância da Avaliação Geriátrica Ampla, conhecer as principais alterações nas apresentações das doenças mais comuns em idosos, identificar os principais fatores de risco para doenças crônicas, para institucionalização e a indicação de testes de rastreamento, manejar casos de urgência e emergência em idosos, entre muitas outras habilidades. Já ao residente do 2º ano (o R2 ou também chamado de R4), além das capacidades adquiridas no primeiro ano, espera-se que seja ensinado a traçar programas de ação, prevenção, promoção e avaliação de saúde para o envelhecimento saudável, manejar casos de pacientes sem perspectiva de cura – em cuidados paliativos, avaliar risco cirúrgico de pacientes idosos, conhecer a legislação em relação à curatela e interdição, identificar riscos de hospitalização e maneiras de preveni-los, atuar em atividades de ensino como preceptores de internos e demais estudantes de medicina, formular projetos de pesquisa científica na área de envelhecimento, entre outros.
Durante a residência, além do treinamento teórico-prático das habilidades necessárias e dos plantões de Urgência/ Emergência, também são realizadas avaliações que incluem: a frequência dos residentes (seja por folha de ponto ou folha de frequência assinada a cada mês), prova teórica trimestral com o conteúdo das atividades teóricas realizadas, avaliação semestral composta por prova prática ou teste cognitivo. A monografia ou artigo para publicação em revista científica a ser realizada no final do curso é opcional, e fica a critério de cada instituição. Além disso, os residentes são constantemente avaliados em relação à pontualidade, participação em equipe (um geriatra nunca trabalha sozinho), conteúdo teórico e organização.
Cada instituição adere a um perfil de ensino das habilidades que são necessárias para uma boa formação do residente; algumas tem maior foco na prática ambulatorial, outras são mais destacadas na prática hospitalar ou em instituição de longa permanência, permitindo ao residente que faça a sua especialização na instituição que mais se identificar. No ano de 2013, a Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG) relacionou algumas instituições que ofereciam vagas de residência médica em Geriatria no Brasil: Universidade de Brasília, SUS-BA (Bahia), Universidade Federal do Ceará, Hospital de Urgência de Goiânia, Escola Superior de Ciência da Santa Casa de Misericórdia de Vitória – Espírito Santo, Hospital Universitário Bettina Ferro de Souza – Pará, Hospital das Clínicas – Pernambuco, Santa Casa de Misericórdia de Curitiva – Paraná, Processo Seletivo Unificado de Minas Gerais, Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais, Instituto de Previdência dos Servidores do Estado de Minas Gerais, Hospital São Lucas – PUC Rio Grande do Sul, Hospital Universitário Pedro Ernesto da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Universidade Federal de São Paulo, Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo, Instituto de Assistência Médica so Servidor Público Estadual de São Paulo, entre outras.
Para entrar na residência, o aluno deve passar por uma avaliação que pode compreender somente a prova teórica, a prova teórica mais a entrevista ou uma combinação de prova teórica, prova prática e entrevista. Essa definição fica a critério de cada instituição, assim como as regras de classificação. Durante os dois anos, além dos meses de férias, pode também existir um mês dedicado a um estágio eletivo – normalmente no 2º ano de residência, em que o residente escolhe uma área de seu interesse para aumentar seu conhecimento; algumas instituições possuem convênios internacionais para a realização desses estágios.
A residência em geriatria ensina aos médicos otimizar e promover a manutenção da capacidade funcional dos idosos, e melhorar sua qualidade de vida, através dos cuidados de condições físicas, agudas ou crônicas, psicológicas, sociais, cognitivas, reabilitação, paliativas e de prevenção. São 2 anos aprendendo a cuidar melhor da população que mais cresce no mundo.