O diagnóstico diferencial de febre em Unidades de Terapia Intensiva é extenso, incluindo tanto causas infecciosas (mais comuns), quanto causas não infecciosas. Alguns dados podem falar mais a favor de origem infecciosa, como temperatura variando entre 38,5-41ºC. Por outro lado, febres prolongadas, que persistem por mais de 48 horas, com temperaturas menores que 38,5ºC, tendo pouca repercussão clínica, sugerem etiologias não infecciosas. Alguns diagnósticos fogem a esta regra, como hipertermia maligna, síndrome neuroléptico maligna e síndrome do choque térmico, condições que cursam com temperatura > 41ºC.
A febre é um dos sinais mais observados no ambiente de terapia intensiva, acometendo cerca de 70% dos pacientes. Alguns estudos observacionais demonstram que febre acima de 39,5ºC, isoladamente, se associou com aumento da mortalidade, custo hospitalar e tempo de internação.
QUAIS SÃO EXEMPLOS DE POSSÍVEIS CAUSAS DE FEBRE EM CTI?
PRINCIPAIS CAUSAS INFECCIOSAS:
– Infecção de corrente sanguínea
– Infecção associada a cateter intravascular
– Infecção de sítio cirúrgico
– ITU
– Pneumonia associada à ventilação mecânica
– Colite pseudomembranosa
– Sinusite aguda (muitas vezes associadas à SNE)
OUTRAS INFECÇÕES:
– Colangite
– Empiema/Abscesso pulmonar
– Abscesso intrabdominal
– Escara infectada
– Diverticulite
– Endocardite
PRINCIPAIS CAUSAS:
– Colecistite acalculosa
– Insuficiência adrenal
– Febre benigna pós operatória
– Febre medicamentosa
– Pancreatite
– Crise tireotóxica
– Reação transfusional
PRINCIPAIS CAUSAS NÃO INFECCIOSAS:
– Síndrome do desconforto respiratório agudo
– Queimaduras
– Abuso de drogas
– Abstinência de drogas
– Hemorragia intracraniana
– Síndrome serotoninérgica
– Tromboembolismo venoso
– Colite isquêmica
– Neoplasias
– Hipertermia maligna
– Medicamentosa (anticonvulsivante, minociclinas, antibióticos, alopurinol, heparina)
QUAIS EXAMES COMPLEMENTARES PODEM ME AUXILIAR A TENTAR ELUCIDAR A CAUSA DA FEBRE?
Vamos lá! A ideia do artigo não é esgotar todo o assunto, que é motivo de estudo intenso pelos intensivistas, mas sim dar uma ideia das principais causas e alguma orientação sobre a investigação.
Em geral, em novos episódios de febre dentro do CTI, hemoculturas devem ser coletadas (pelo menos 2 amostras de sítios diferentes), na tentativa de encontrar algum germe causador de infecção. O hemograma completo também podem possuir achados sugestivos de processo infeccioso (leucocitose, desvio à esquerda), além da proteína C reativa (baixa especificidade). Em pacientes com sonda vesical de demora, naqueles com história de nefrolitíase, cirurgia ou trauma recente do trato urinário, o EAS (Urina I) e a urinocultura ajudam na elucidação. Outros exames complementares devem ser reservados e direcionados de acordo com a clínica de cada paciente.
GUILHERME, E O TRATAMENTO DA FEBRE NA UTI?
Reforçando, a abordagem inicial desse perfil de paciente deve ser guiada pela história clínica, exame físico e características gerais da febre (magnitude, duração, relação com a frequência cardíaca, interação com formas diagnósticas e terapêuticas recentes realizadas). Além disso, antes de iniciar qualquer tratamento, indica-se a coleta de, no mínimo, duas hemoculturas e outras culturas guinadas de outros sítios, se necessário.
Em pacientes em uso de cateteres intravasculares, sonda vesical de demora, sonda nasogástrica ou nasoentérica, sempre devem ser lembrados nos casos de febre com forma não aparente. Deve-se avaliar a possibilidade de remoção de tais dispositivos e proceder para as culturas guinadas.
Pacientes com febre e diarreia, em uso atual ou prévio de antibióticos de amplo espectro nos últimos 2 meses, merecem ser investigados para colite pseudomembranosa.
Em casos de etiologia não encontrada, avaliar medicamentos associados com ocorrência de febre e retirá-los se possível.
O uso de antitérmicos como dipirona, paracetamol e indometacina podem ser empregados.