Introdução
Ortopneia, dispneia paroxística noturna, platipneia, trepopneia… Quem nunca ouviu esses termos nos rounds e no dia- a- dia nas enfermarias e ambulatórios? Quem nunca confundiu um termo com outro, ou teve aquele “branco” quando estava escrevendo no prontuário e queria caracterizar a dispneia? Por isso, neste artigo vamos abordar as principais denominações especiais para a dispneia, as quais são extremamente importantes na prática clínica.
Afinal, o que é a dispneia?
Dispneia é o termo empregado para designar a sensação de dificuldade respiratória experimentada por pacientes acometidos por doenças variadas, bem como por indivíduos sadios, quando se encontram em condições de exercício extremo. Ela é um sintoma muito comum na prática médica, sendo particularmente referida por indivíduos com patologias dos aparelhos respiratório e cardiovascular.
E por que é tão importante entendermos os conceitos relacionados a dispneia?
Isso se torna essencial porque a dispneia é um sintoma bastante comum na prática médica, além de ser uma queixa frequente de pacientes. Somado a isso, a dispneia tem a capacidade de piorar consideravelmente a qualidade de vida dos indivíduos, e é considerada o principal fator limitante da qualidade de vida relacionada à saúde de pacientes pneumopatas crônicos.
Os mecanismos envolvidos no surgimento da dispneia
A experiência de dispneia provavelmente resulta de uma complexa interação entre a estimulação de quimiorreceptores, as alterações mecânicas na respiração e a percepção dessas anormalidades pelo sistema nervoso central. Alguns autores defenderam que há uma espécie de desacoplamento neuro-mecânico, proveniente do desequilíbrio entre a estimulação neurológica e as alterações mecânicas no pulmão e na parede torácica. No entanto, apesar de sua importância inegável, nem todos os mecanismos envolvidos com o surgimento da dispneia são completamente conhecidos e ainda há muito o que aprendermos.
E os termos descritivos de condições específicas? Quais são eles?
No contexto clínico de pacientes com dispneia, são utilizados com muita frequência termos descritivos de condições específicas. Vamos entender o significado de cada um deles?
Dispnéia de Esforço
O termo dispneia de esforço é utilizado quando se quer descrever a sensação de dispneia que surge ou que é agravada devido à execução de atividades físicas. Trata- se de uma queixa bastante comum- porém inespecífica- presente principalmente entre os pacientes portadores de pneumopatias e de cardiopatias.
Se um paciente não tem doenças conhecidas, porém apresenta dispneia de esforço, isso pode ser um sinal de alerta para um problema em desenvolvimento, o qual necessita ser investigado. Por outro lado, em pacientes submetidos ao tratamento para doenças como cardipatias e/ ou pneumopatias, a dispneia após o esforço pode ser um sinal de que o tratamento do paciente não está sendo suficientemente eficaz e de que precisa ser adaptado.
Ortopneia
Ortopneia é a denominação dada ao surgimento ou ao agravamento da sensação de dispneia gerada a partir da adoção da posição horizontal, como por exemplo, quando nos deitamos para dormir. Nesse contexto, observa- se que o sintoma tende a ser aliviado, parcial ou totalmente, com a elevação da porção superior do tórax pelo uso de um número maior de travesseiros ou pela elevação da cabeceira da cama. Classicamente, a ortopneia surge em pacientes portadores de insuficiência cardíaca esquerda e, nesse caso, é geralmente associada com o estabelecimento de congestão pulmonar.
E por que a congestão pulmonar cursa com a ortopneia?
O que ocorre nessas condições é que a presença de congestão pulmonar promove rápidas alterações da complacência pulmonar, gerando, consequentemente, o aumento do trabalho dos músculos respiratórios e, por isso o surgimento de dispneia. Tal queda da complacência pulmonar é atribuída a elevações da pressão hidrostática intravascular- coluna de sangue situada abaixo do nível cardíaco- nas regiões dependentes do pulmão, que acabam por ocupar áreas mais extensas, quando a posição deitada é assumida.
Embora mais frequente em pacientes portadores de insuficiência cardíaca, a ortopneia também pode ser observada em pacientes com asma ou doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) e consiste em uma queixa característica de indivíduos portadores de fraqueza da musculatura diafragmática como, por exemplo, pacientes com doenças neuromusculares. Nessa situação, no entanto, o mecanismo que gera a ortopneia é distinto, já que, nesse caso, o decúbito dorsal leva à elevação das vísceras abdominais, que acabam por se opor às incursões inspiratórias diafragmáticas.
Dispnéia paroxística noturna (DPN)
A DPN é o nome dado à situação na qual o paciente tem seu sono interrompido por uma sensação súbita de falta de ar, a qual tende a causar tanto desconforto que geralmente o obriga a sentar- se no leito, ou mesmo a levantar-se e procurar uma área da casa mais ventilada, visando a obter alívio da súbita sensação de sufocamento. Nesses casos, é comum que a sensação de dispneia venha em associação com sudorese profusa.
A dispneia paroxística noturna é uma condição comum em pacientes portadores de insuficiência cardíaca esquerda. Nesse contexto, admite-se que, durante o sono, a reabsorção do edema periférico leve à hipervolemia sistêmica e pulmonar e, por conseguinte, ao agravamento da congestão pulmonar. As sobrecargas hemodinâmicas, que ocorrem em uma fase particular do sono- na fase dos movimentos rápidos dos olhos, ou sono REM- podem contribuir para o agravamento da congestão pulmonar e facilitar o surgimento desse tipo de dispneia. Isso porque, no sono REM, observa- se grande estimulação dos nervos simpáticos sobre o sistema cardiovascular.
Platipneia
A platipneia é o nome dado à sensação de dispneia, que surge ou que se agrava com a adoção da posição ortostática, em geral em pé. Classicamente, esse fenômeno ocorre em pacientes com quadros de pericardite ou na presença de shunts direito-esquerdos. Em geral, nesses caso a platipneia pode vir associada a ortodeoxia, o que se traduz em queda acentuada da saturação arterial de oxigênio com a posição em pé. Vale mencionar também que a platipneia e a ortodeoxia são achados clássicos da síndrome hepato- pulmonar, a qual é estabelecida de forma secundária à presença de dilatações vasculares intrapulmonares.
Trepopneia
A trepopneia consiste na sensação de dispneia que surge ou piora ao se adotar uma posição lateral, e desaparece ou melhora quando se institui o decúbito lateral oposto. É uma queixa dotada de inespecificidade, a qual pode surgir em qualquer doença em que haja comprometimento de um pulmão mais intensamente do que de outro. Dentre os exemplos dessa condição, podem ser mencionados a ocorrência de derrame pleural unilateral ou a paralisia diafragmática unilateral.
Asma cardíaca
Asma cardíaca? Que termo estranho, não acha?
Na realidade, a nomenclatura asma cardíaca consiste é de fato um termo inapropriado. No entanto, esse termo é frequentemente utilizado para designar a queixa de “chiado no peito” e a presença de sibilos em pacientes com insuficiência cardíaca esquerda e que apresentam sintomas de dispneia. De forma geral, os pacientes com essas queixas podem referir também ortopneia e dispneia paroxística noturna.
A gênese da asma cardíaca
Admite-se que o estreitamento das pequenas vias aéreas por edema da mucosa e reflexos gerados a partir de receptores nervosos, localizados no interstício pulmonar, com consequente broncoespasmo, estejam envolvidos na gênese de tais fenômenos.
Muito bemmmm….. PARABÉNS
Que bom que curtiu, Elen! Ficamos alegres em saber que o conteúdo te agradou! (=