A década de 1980 abriga um cenário de crise epidémica da AIDS. A ausência de drogas disponíveis para combater esta doença nos Estados Unidos causava umas atmosfera de desespero e insegurança. O filme Clube de Compras de Dallas faz um recorte desse período. Ele conta a história de vida de Ron Woodroof.
O olhar apurado de um médico ou estudante de medicina, no entanto, consegue perceber algumas brechas na narrativa e como as drogas de combate à AIDS são abordadas. Principalmente a chamada azidotimidina (AZT). É o que vamos discutir um pouco neste artigo. Vamos lá?
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Um pouco sobre o filme:
O personagem, interpretado por Matthew McConaughey, é um cowboy dedicado a prazeres como drogas, sexo e bebidas. Esses hobbies, porém, serviram como porta de entrada para o vírus do HIV. Depois de realizar o exame e receber o resultado positivo, é informado que terá mais 30 dias de vida. Inconformado com esse diagnóstico, Woodroof procura meios de conter a doença e melhorar este diagnóstico.
Por meios de negócios escusos, a personagem busca por drogas de combate a AIDS, muitas delas importadas do México e bastante duvidosas. O trâmite passou a tornar-se um trabalho bastante produtivo e Woodroof começou a revender esses medicamentos. A partir disso, cria-se o Clube de Compras de Dallas, formado por pessoas com HIV positivo dos Estados Unidos que buscavam por drogas que controlassem a doença.
Contexto da epidemia de AIDS
É bem conhecido que a FDA (Food and Drugs Administration) estava realizando testes com drogas que possivelmente poderiam servir como tratamento para a AIDS. É fácil imaginar a pressão que o órgão sofria para liberar alguma droga que pudesse conter a doença. No entanto, o tipo de teste iniciado levava de oito a dez meses e as pessoas que contraíram o vírus não tinham esse tempo.
É aí que o AZT entra: o medicamento, antes testado com a possibilidade de inibir a reprodução de células cancerígenas, passa a ser uma nova esperança. O teste foi feito com 300 pessoas, cuja metade recebia o medicamento, e a outra, placebos. Este momento é bem retratado no filme, quando personagem acusa a médica responsável pelo teste de dar “cubos de açúcar para pessoas a beira da morte”.
Apesar da polêmica do procedimento, os fatos foram o seguinte: o primeiro grupo obteve, durante os primeiros quatro meses, uma morte, enquanto o outro, dezenove. A companhia farmacêutica encarou este resultado como “uma luz no fim do túnel”. O FDA foi pressionado a liberar a primeira medicação contra o HIV em tempo recorde de 20 meses.
Onde o filme errou:
Contrariando a maioria dos médicos, o medicamento não é o queridinho dos membros do Clube. No filme, a personagem não tem uma boa reação com o AZT e a droga é logo dispensada em detrimento de outras como a peptide T. No entanto, a mesma já foi provada por não ter efeito nenhum no combate à doença. Mas o que pode ser entendido pelo espectador é que todas essas alternativas bastante duvidosas foram realmente eficazes, enquanto a primeira droga vendida legalmente nos Estado Unidos, utilizada até hoje, não.
Por qual motivo a AZT é retratada como a vilã das drogas?
Na época da correria para descobrir e aprovar algum remédio, os médicos que faziam parte dos testes prescreviam altas doses para os pacientes. Isto desencadeava fortes efeitos colaterais, como náuseas, baixa imunidade, problemas intestinais e dores de cabeça. Devido a alta toxicidade do AZT. É muito provável que Woodroof tenha ingerido muito mais do que o recomendado.
Hoje em dia o AZT ainda é utilizado no combate ao HIV. Com doses muito mais baixas do que na época. O tratamento também consiste muito mais em combinações de medicamentos ideal, feita a partir das mais de 40 drogas disponíveis nas farmácias norte americanas. Dados, na medida e no tempo certo, o doente pode ter uma vida normal.
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